terça-feira, 3 de março de 2009

A Campanha da Fraternidade


traz para este ano de 2009, uma proposta bastante atual de reflexão. Tão urgente quanto necessária, principalmente para os grandes centros urbanos acentuadamente de países como o Brasil.Fraternidade e Segurança Pública.Tema amplo, complexo, de cujo o lema é “A paz é fruto da Justiça”.No texto base que a própria CNBB nos apresenta, podemos ter acesso há uma ampla abordagem sobre a questão, com uma visão sociológico-jurídica bastante abrangente e precisa sobre a questão da violência e todos as suas ramificações perversas.Diz o documento, em sua página 58: “Uma grave fonte de conflitos é a injustiça social, que tem forteincidência no Brasil e manifesta-se de diferentes formas como aconcentração de renda, a não satisfação das necessidades básicasde grande parte da população e o processo cada vez mais crescentede exclusão social, cada dia com novos desdobramentos.Parcelas consideráveis da população convivem, diariamente,com a falta dos recursos básicos para uma vida digna e, até mesmo,para a própria sobrevivência.(...)”Falar da insegurança que nos tem acompanhado diariamente é falar de vida indigna.Muitas pessoas, quando perguntadas sobre o quê deveria ser feito para aumentar a segurança nas ruas de nossa cidade, imediatamente sinalizam com o entendimento de que é necessário mais policiamento armado nas ruas. Não há dúvida de que existe uma grave defasagem entre o número de policiais que deveria haver e os que de fato estão nas ruas, mas nem que se pusesse um policial para cada habitante o problema seria solucionado.Por quê? Pelo simples fato de que a segurança nasce de uma sociedade em que dignidade da vida de cada cidadão é assumida verdadeiramente de uns para com os outros e pelo Estado.Cristo, nosso Exemplo , lutou e ensinou a luta que deveria ser travada exatamente para que todos tivessem “Vida e Vida em abundância”. Reconhecer o direito a que se tenham atendidas todas as necessidades básicas e elementares para um viver com dignidade passa obrigatoriamente pelo respeito à cidadania.Como já disse um dia Dom Eusébio O. Scheid, não é possível ser um bom cristão se não se for um bom cidadão. A cidadania requer respeito para com os direitos e deveres de TODOS, os próprios e os dos outros. Numa sociedade em que cotidianamente a maioria da população se vê sem o mínimo para sua sobrevivência, não pode esperar resultados de paz e tranqüilidade. Está, na verdade, sendo travada uma luta surda, desigual e desumana onde o mais fraco é mantido na fraqueza, onde a dignidade de filhos de Deus vale menos que um grão de terra seca.Não há paz onde há fome. Não há paz onde a maioria é invisível aos olhos daqueles que, tendo mais, usufruem de forma violentamente egoísta do que tem.O Reino de Deus, instalado por Jesus da Galiléia, está no hoje, no aqui e agora. Não podemos mais ficar infantilmente “esperando” por algo que cabe a nós construirmos. Foi isso que Ele nos ensinou. “Dai-lhes vós mesmos de comer...” !A falta de oportunidade para uma vida vivida com dignidade é, sem dúvida, um dos maiores alimentadores dos conflitos que geram a violência em todos os seus tipos e graus.Se legalmente não se pode alimentar a busca por uma justiça social a qualquer custo, onde os princípios básicos de civilidade e humanidade não vigorem, não se pode também, na mesma proporção, acreditar que a paz seja fruto natural quando não há escola de qualidade, hospitais que tratem a vida com respeito, moradias que de fato abriguem e protejam. Quando não há comida.A sociedade que construímos se tornou nosso próprio algoz.Alimentamos um monstro social que tira de nós a capacidade de enxergarmos o que de fato tira a paz. A nossa e a de todos. Seguimos em frente pedindo por mais policiais com armas nas ruas, esquecendo de que nelas estão sendo travadas todos os dias inúmeras lutas de também inúmeras pessoas para continuarem vivas e que, se na mais remota possibilidade pudéssemos ter tal experiência, entenderíamos melhor que o nosso maior desafio como agentes da paz é defendermos a dignidade daqueles que nem mais existem para si mesmos, daqueles que, junto com a fome, perderam também a sensibilidade e a perspectiva do Amor.


Cristina Magalhães
Paróquia Imaculada Conceição do Recreio / Rio

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