segunda-feira, 20 de abril de 2009

ADMINISTADOR INFIEL


Lição 1 : O teor da parábola

Jesus contou aos seus discípulos a estória de um homem
administrador de grande fazenda, em que se cultivavam cereais e
oliveiras. O respectivo proprietário vivia na cidade distante, de modo
que delegava amplos poderes ao seu ecônomo: tratava com os
colonos e clientes do seu patrão; alugava, vendia e comprava a seu
bel-prazer.
Um dia o procurador foi chamado ao escritório do seu patrão, que
lhe disse secamente: "Chegaram-me aos ouvidos péssimas
referências a teu respeito: tens esbanjado os meus bens. Presta
contas da tua administração, pois estás intimado a sair do cargo". Isto
se entende desde que se leve em conta que os orientais não
conheciam o controle regular das finanças.
Verifica-se que o administrador era, sim, desonesto, mas também
leviano; levava vida fácil e alegre, jogando com os bens de que
dispunha cada dia, sem mesmo se preocupar com o amanhã ou com
o seu próprio enriquecimento. Era o homem "não sábio", insensato,
que, ao ser demitido, se viu dolorosamente embaraçado: nada tinha
para garantir o seu futuro, pois simplesmente dilapidava os bens do
patrão. Levou, pois, um grande susto!
Pôs-se então a monologar consigo mesmo: não se desculpava,
mas reconhecia a sua culpa. Que faria doravante? Cavaria a terra?
Mendigaria? Nem uma coisa nem outra; o procurador, que fizera as
vezes de senhor de boa categoria social, tinha vergonha; ademais,
para cavar a terra, faltavam-lhe as forças e o hábito; quanto a
mendigar, parecia-lhe duplamente vergonhoso, depois de uma vida
abastada; com efeito, os judeus consideravam a mendicância como
castigo de Deus; ver Eclo 40,28s: "Filho, não vivas mendigando: é
melhor morrer do que mendigar. Ao homem que olha para a mesa
alheia, a vida não deve ser contada como vida".

De repente, o procurador descobriu um artifício astuto para se livrar das dificuldades. Chamaria cada um dos devedores do patrão e
diminuiria a sua dívida; quem aceitasse tão vantajosa negociata,
ficaria depois obrigado a receber em sua casa o administrador
demitido e carente de apoio. Assim o desonesto ecônomo aproveitou
os últimos dias de sua gestão não para devolver o que roubara, mas
para roubar mais ainda, só que, dessa vez, com proveito para si, com
previdência, com esperteza, ele que sempre roubara com leviandade
e futilidade. Compreende-se que os credores tenham aceito prontamente a "interessante" proposta do administrador, sem pensar
talvez nas obrigações que contraíam para com ele num futuro
próximo. Notemos, aliás, o estilo do diálogo do ecônomo com os
devedores: começa pela pergunta: "Quanto deves ao meu senhor?",
pergunta retórica, pois o administrador devia saber o montante; a
questão, porém, era válida para recordar ao devedor a importância
da sua dívida; reconheceria melhor o vulto do favor que lhe era prestado
pelo ecônomo astuto.Há quem explique de outro modo a negociata de
16,5-7: segundo o costume, tolerado na Palestina naquela época,
dizem, o administrador tinha o direito de conceder empréstimo com os
bens do seu senhor. E, como não era remunerado, ele se indenizava
aumentando, no recibo, a importância dos empréstimos. Assim na
hora do reembolso ficava com a diferença como se fosse seu
honorário ou seu juro. No caso da parábola, portanto, ele não havia
emprestado senão cinqüenta barris de óleo e oitenta medidas de trigo.
Colocando no recibo a quantia real, ele apenas estava se privando do
benefício que lhe tocaria segundo o costume vigente. Sua
desonestidade, portanto, não consistiria na redução de dívidas
devidas ao patrão, mas nas ações fraudulentas anteriores que
provocaram a sua demissão.

Este modo de entender o comportamento do administrador parece
um tanto artificial e arbitrário; pode-se perguntar: onde é que o texto
evangélico o fundamenta...? Mais lógica e óbvia parece-nos ser a
clássica interpretação: o administrador negociou desonestamente com
o dinheiro do patrão até o último dia da sua gestão.

O proprietário dispensou o procurador. Tomou então consciência
da fraude astuta; mas já era tarde para invalidá-la. Por isto, embora
sofresse o dissabor da lesão, ainda quis reconhecer a esperteza ou
habilidade do ladrão; não fora um ladrão bobo... "O senhor louvou o
administrador desonesto por ter agido com prudência" (v. 8a). "O
senhor", no caso, não é Jesus, mas o patrão lesado, que reconheceu
a fraude com espírito de humor.
Jesus, porém, acrescentou:"... pois os filhos deste século são
mais prudentes com a sua geração do que os filhos da luz" (v. 8b).
Que significa isto?

"Os filhos deste século" é expressão semita equivalente a "homens absorvidos pêlos interesses materiais ou temporais".

Estão em contraste com "os filhos da luz", sinônimo de "filhos de
Deus" (cf.1Jo 1,5), homens voltados para a prática do bem e da
honestidade. "Mais prudentes" quer dizer: "mais espertos, hábeis,
conscientes"; "com sua geração", isto é, com seus semelhantes. — As
palavras de Jesus exprimem um fato que até hoje se verifica: os maus
são mais finórios e sagazes na promoção dos seus interesses maus
ou meramente materiais do que os bons no serviço dos verdadeiros
valores e do próprio Deus. Já dizia Pio XII que o grande escândalo
dos nossos tempos é que os bons "estão cansados", ao passo que os
maus trabalham muito; pode parecer que a procura dos bens
materiais empolga mais os pecadores do que a procura dos bens
espirituais empolga os justos; os maus têm mais zelo pelo que é mau,
do que os bons pelo que é bom. Exemplo disto seria o administrador
desonesto que soube encontrar hábeis recursos para se manter
impune na fraude até o fim; seria para desejar que os bons o
imitassem na promoção do bem; "Aqueles correm em demanda de
uma coroa perecível; nós em demanda da imperecível", diz São Paulo
(1Cor 9,26). É bem de notar que Jesus não manda cometer o mal,
mas sim praticar o bem, todavia com o interesse e o empenho que os
maus aplicam para a promoção do mal. Lembremo-nos de que,
paralelamente, Jesus exorta os seus discípulos a ser hábeis como as
serpentes (cf. Mt 10,16).

Segundo alguns comentadores, a parábola termina no v.8. Cremos, porém, que o v.9 a integra como conclusão tirada por Jesus:
"E eu vos digo: fazei amigos com o dinheiro da iniqüidade, a fim de
que, no dia em que faltar, eles vos recebam nas tendas eternas". Esta
frase, aparentemente misteriosa, quer dizer o seguinte:

"Dinheiro da iniqüidade" é expressão semita que designa o
dinheiro como tal,... dinheiro que em si é algo de neutro (moralmente,
nem bom nem mau), mas que muitas vezes é iniqüamente utilizado
pelos homens; daí dizer-se "dinheiro iníquo" (1). Jesus faz do dinheiro
um símbolo dos bens ou talentos que cada um de nós possui (tempo,
saúde, dotes pessoais...); e exorta-nos a que, com esses bens,
pratiquemos obras boas (Vaçamos amigos") que nos mereçam o
ingresso na vida eterna ("tendas eternas")(2) . Sejamos tão zelosos
quanto os filhos das trevas, para realizar o bem enquanto é tempo, ou
enquanto a graça de Deus nos possibilita preparar nossa vida
definitiva; temos aqui um convite para acumular tesouros no céu, seja
por meio da esmola, seja mediante outras obras boas; ver Lc 12,33;
18,22.
(1)O texto grego diz 'mamona da iniqüidade*. Mamona vem da raiz aramaica mn (-aquilo em que se pode confiar, ou que ó seguro). Entra os judeus, significa posses ou propriedades, não raro em sentido pejorativo.
(2)"Habitar em tendas* é uma imagem que designa a mansão de Deus ou, sem metáfora, a bem-aventurança final; ver Mc 9,5; At 15,16; Ap 7,15; 21,3.


Os rabinos costumavam dizer que as boas obras são nossos intercessores: "Aquele que cumpre um mandamento, adquire para si um intercessor" (R Abn. 4,11).
"Donde vem que as esmolas e as obras de caridade sejam um grande intercessor? * (Tos. Pea 4,21).
Procuremos agora definir claramente os ensinamentos da parábola.

Lição 2: A interpretação da parábola
A parábola do administrador iníquo, que freqüentemente causa dificuldades aos intérpretes, é portadora de profundos ensinamentos.
Devemos observar, antes do mais, que é uma parábola a contraste..., parábola em que o Senhor propõe uma imagem negativa, hedionda, que, por contraste, significa algo de positivo e muito belo. Assemelha-se ao negativo de uma fotografia, que deve ser revelada, de tal modo que os respectivos traços pretos se tornarão brancos. Há outras parábolas deste gênero no Evangelho: em Lc 18,1-8 o juiz cínico é figura, por contraste, do Senhor Deus (que é o contrário do cinismo); em Lc 11,5-8 o amigo comodista é símbolo do próprio Deus (o Amigo que primeiro nos amou; cf. 1Jo 4,19); em Lc 11,11-13 o pai da terra, deficiente como é, simboliza o Pai do céu (que é perfeito). — No caso de Lc 18,1-9 Jesus propõe um homem que é fraudulento e leviano, fútil; um dia leva um susto, que o obriga a pensar sobre o sentido da vida; converte-se então, nos poucos dias que lhe restam, da futilidade e insensatez para a sabedoria e habilidade, sem porém deixar de ser desonesto. Com outras palavras: temos a história da fraudulência leviana que se converte em fraudulência atenta e sábia, em conseqüência de um susto que ainda lhe deixou poucos dias para se converter. Ora Jesus nos diz que essa estória ó imagem do que nós devemos fazer, nós que queremos ser filhos da luz e não filhos das trevas. Propensos à superficialidade e à rotina de vida, saibamos aproveitar os sustos que a Providência permite em nossa existência a fim de nos convertermos à sabedoria, sensatez e profundidade do coração.
Eis o esquema correspondente:
1) Filho deste mundo

Fraudulência insensata susto Fraudulência sensata
Prazo

2) Filho da Luz

Cristãos levianos susto cristãos mais sábios
Prazo

Mais precisamente formulemos as seguintes conclusões:






A parábola do administrador iníquo está na linha das do rico
proprietário de Lc 12,16-21, e do ricaço de Lc 16,19-31: ensina-nos a
olhar os bens deste mundo com sabedoria, isto é, a partir da
eternidade ou à luz do definitivo, a fim de não sermos surpreendidos
pela morte. Acrescenta, porém, às anteriores um elemento novo. Após
o susto ou a desinstalação, ainda há um prazo para a conversão e o
recomeço: Deus é paciente e misericordioso; antes de aplicar a justiça
definitiva, Ele concede oportunidades de emenda.
Assim a parábola vem a ser uma exortação à conversão (a sua tônica
está neste traço)..., conversão não tanto do pecado grave para a
virtude, mas sim da virtude levianamente praticada para a virtude
exercida com pleno fervor. O fervor heróico pode tomar aspectos
diversos no decorrer da história do Cristianismo. Eis a propósito, dos
Padres do deserto (século IV):
Certa vez um grupo de jovens monges foi procurar o abade Isquirião
no deserto para pedir-lhe orientação. Após narrar o seu modo de vida
austera (jejuns, vigílias, trabalho manual...), perguntaram-lhe: "Quanto
vale a nossa vida?" Respondeu o ancião: "Vale a metade daquilo que
nossos Pais fizeram". Muito surpresos, indagaram os jovens: "E
aqueles que virão depois de nós, quanto valerão?" Disse Isquirião: "
Farão a metade do que nós fazemos". Mais atônitos, ainda
perguntaram os jovens: "E aqueles que virão depois desses, que
farão?" Respondeu o abade: "Farão menos ainda do que os
anteriores, mas sobrevirá a eles uma grande tempestade, e os que

permanecerem fiéis naquele tempo, serão maiores do que nós e os
nossos pais".

Esta despretensiosa profecia vem-se cumprindo. Com efeito; é
cada vez mais atenuada em nossos dias a prática de ascese corporal
rigorosa (talvez em virtude da agitação da vida e do enfraquecimento
das saúdes), mas nem por isto os cristãos contemporâneos estão
condenados à mediocridade; a Providência lhes oferece a
oportunidade de ser constantemente sacudidos e solicitados para uma
vida sábia, consciente e plena mediante a tempestade de propostas
filosóficas dentro e fora da Igreja; levam a procurar "atenuar" ou
"humanizar* as exigências da fé; quem lhes resiste, mobiliza
constantemente suas energias espirituais e sacode a rotina...

2) A parábola nos ensina, como outras já estudadas, a aproveitar
os bens que temos, não necessariamente o dinheiro, mas outros dons
de Deus... enquanto é tempo, enquanto somos peregrinos à luz desta
vida terrestre. "Hoje, Oxalá ouçais a sua voz... Não endureçais vossos
corações,... como vossos pais, que me tentaram, embora tivessem
visto as minhas obras" (SI 94,7-9). Não sabemos quantas vezes ainda
diremos "Hoje...". Daí a premência de aproveitar o presente.
3) Saibamos tirar proveito também dos sustos e reveses desta vida ou... até mesmo do pecado. Deus pode permitir o pecado para
que despertemos da inconsciência para um comportamento mais
definido e coerente. Tudo é graça no plano de Deus; tudo pode servir
à nossa salvação.
4) O grande mal que pode acometer um cristão é a mediocridade de vida, é a acomodação sem dinamismo. Para Deus, só pode haver
uma resposta condigna: doar-se totalmente, sem regateios. Diz o
Senhor: "Conheço a tua conduta: não és frio nem quente. Oxalá
fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente,
estou para te vomitar de minha boca" (Ap 3,15s). O desfibramento da
vida cristã, que por si é extremamente dinâmica, é que causa a
perplexidade e a indiferença do mundo ateu. "Vós sois o sal da
terra...", diz o Senhor (Mt 5,13).

quinta-feira, 9 de abril de 2009

LAVA-PÉS


Jesus lava os pés dos discípulosJo 13,1-15Faltava somente um dia para a Festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a hora de deixar este mundo e ir para o Pai. Ele sempre havia amado os seus que estavam neste mundo e os amou até o fim. Jesus e os seus discípulos estavam jantando. O Diabo já havia posto na cabeça de Judas, filho de Simão Iscariotes, a idéia de trair Jesus. Jesus sabia que o Pai lhe tinha dado todo o poder. E sabia também que tinha vindo de Deus e ia para Deus. Então se levantou, tirou a sua capa, pegou uma toalha e amarrou na cintura. Em seguida pôs água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha. Quando chegou perto de Simão Pedro, este lhe perguntou: - Vai lavar os meus pés, Senhor? Jesus respondeu: - Agora você não entende o que estou fazendo, porém mais tarde vai entender! - O senhor nunca lavará os meus pés! - disse Pedro. - Se eu não lavar, você não será mais meu discípulo! - respondeu Jesus. - Então, Senhor, não lave somente os meus pés; lave também as minhas mãos e a minha cabeça! - pediu Simão Pedro. Aí Jesus disse: - Quem já tomou banho está completamente limpo e precisa lavar somente os pés. Vocês todos estão limpos, isto é, todos menos um. Jesus sabia quem era o traidor. Foi por isso que disse: "Todos menos um." Depois de lavar os pés dos seus discípulos, Jesus vestiu de novo a capa, sentou-se outra vez à mesa e perguntou: - Vocês entenderam o que eu fiz? Vocês me chamam de "Mestre" e de "Senhor" e têm razão, pois eu sou mesmo. Se eu, o Senhor e o Mestre, lavei os pés de vocês, então vocês devem lavar os pés uns dos outros. Pois eu dei o exemplo para que vocês façam o que eu fiz
LEITURA ORANTE Preparo-me para a Leitura Orante, rezando: Espírito de verdade, a ti consagro a mente e meus pensamentos: ilumina-me. Que eu conheça Jesus Mestre e compreenda o seu Evangelho. Ó Jesus Mestre, Verdade, Caminho e Vida, tem piedade de nós 1. Leitura (Verdade): O que diz o texto do dia? Leio atentamente o texto: Jo 13,1-15, e observo pessoas, palavras, relações, lugares. .Jesus lava os pés dos discípulos para dizer uma ´só coisa: amar é servir. Jesus tira o manto, no meio da refeição, e começa a lavar os pés dos discípulos. Tirar o manto significa abrir mão de todo privilégio ou status. Ele faz o que faziam os escravos. Num gesto de infinito amor. No final, diz: " Vocês entenderam o que eu fiz? Vocês me chamam de "Mestre" e de "Senhor" e têm razão, pois eu sou mesmo. Se eu, o Senhor e o Mestre, lavei os pés de vocês, então vocês devem lavar os pés uns dos outros." 2. Meditação (Caminho): O que o texto diz para mim, hoje? Hoje é o dia da instituição da Eucaristia, dia de ação de graças, como diz a própria palavra Eucaristia. E me pergunto: sou capaz de fazer como Jesus fez? Sou capaz de deixar o manto de meus privilégios mesmo quando tenho uma posição de chefia? Sou capaz de viver meu cargo, minha posição social como oportunidade de servir? Por amor? 3.Oração (Vida): O que o texto me leva a dizer a Deus? Hoje farei o possível de estar na comunidade em adoração a Jesus na Eucaristia. E, agora, faço, com a Família Paulina, esta oração, sugerida pelo bem-aventurado Alberione: Jesus, divino Mestre, Eu te louvo e agradeço pelo grande dom da Eucaristia. Teu amor te leva a morar conosco, E a renovar teu mistério pascal na missa, Onde te fazes nosso alimento. Que eu possa tomar dessa água viva que jorra do teu coração! Concede-me a graça de conhecer-te sempre mais, de encontrar-me contigo, todos os dias, neste Sacramento, de compreender e viver a missa, de me alimentar com o teu Corpo com devoção e fé. Amém. Ó Jesus Mestre, Verdade, Caminho e Vida, tem piedade de nós. 4.Contemplação (Vida e Missão): Qual meu novo olhar a partir da Palavra? "Somos chamados a encarnar o Evangelho no coração do mundo". Como vou vivê-lo na missão? Meu novo olhar é do amor que serve. Ó Jesus Mestre, Verdade, Caminho e Vida, tem piedade de nós.

domingo, 5 de abril de 2009

DOMINGO DE RAMOS


O Domingo de Ramos abre por excelência a Semana Santa. Relembramos e celebramos a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, poucos dias antes de sofrer a Paixão, Morte e Ressurreição. Este domingo é chamado assim porque o povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão onde Jesus passava montado num jumento. Com folhas de palmeiras nas mãos, o povo o aclamava “Rei dos Judeus”, “Hosana ao Filho de Davi”, “Salve o Messias”... E assim, Jesus entra triunfante em Jerusalém despertando nos sacerdotes e mestres da lei muita inveja, desconfiança, medo de perder o poder. Começa então uma trama para condenar Jesus à morte e morte de cruz.
O povo o aclama cheio de alegria e esperança, pois Jesus como o profeta de Nazaré da Galiléia, o Messias, o Libertador, certamente para eles, iria libertá-los da escravidão política e econômica imposta cruelmente pelos romanos naquela época e, religiosa que massacrava a todos com rigores excessivos e absurdos.
Mas, essa mesma multidão, poucos dias depois, manipulada pelas autoridades religiosas, o acusaria de impostor, de blasfemador, de falso messias. E incitada pelos sacerdotes e mestres da lei, exigiria de Pôncio Pilatos, governador romano da província, que o condenasse à morte.
Por isso, na celebração do Domingo de Ramos, proclamamos dois evangelhos: o primeiro, que narra a entrada festiva de Jesus em Jerusalém fortemente aclamado pelo povo; depois o Evangelho da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, onde são relatados os acontecimentos do julgamento de Cristo. Julgamento injusto com testemunhas compradas e com o firme propósito de condená-lo à morte. Antes porém, da sua condenação, Jesus passa por humilhações, cusparadas, bofetadas, é chicoteado impiedosamente por chicotes romanos que produziam no supliciado, profundos cortes com grande perda de sangue. Só depois de tudo isso que, com palavras é impossível descrever o que Jesus passou por amor a nós, é que Ele foi condenado à morte, pregado numa cruz.
O Domingo de Ramos pode ser chamado também de “Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor”, nele, a liturgia nos relembra e nos convida a celebrar esses acontecimentos da vida de Jesus que se entregou ao Pai como Vítima Perfeita e sem mancha para nos salvar da escravidão do pecado e da morte. Crer nos acontecimentos da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, é crer no mistério central da nossa fé, é crer na vida que vence a morte, é vencer o mal, é também ressuscitar com Cristo e, com Ele Vivo e Vitorioso viver eternamente. É proclamar, como nos diz São Paulo: ‘“Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de Deus Pai’ (Fl 2, 11).

domingo, 29 de março de 2009

FRUTOS DO ESPIRITO

1. Amor (agape) Para os gregos a palavra amor como conhecemos no português se desdobra em três tipos diferentes de amor. Assim, temos o amor do amigo, o filia. Há o amor da necessidade do outro, que é o eros. E há ainda um amor que é o mais elevado, chamado ágape.
É justamente esse amor que surge como fruto do Espírito. O amor ágape consiste no amor daquele que não busca a própria satisfação, mas se doa e até se sacrifica por outra pessoa, ou por uma tarefa. Seu mistério está no esquecimento de si, no interesse pela felicidade de outros. Ele não pede recompensas, elogios e reconhecimentos.
Esse é o amor da família de Deus, como eram aqueles primeiros cristãos, que eram um só coração e uma só alma. Assim, o amor ágape é aquele amor do interesse incondicional pela satisfação de outrem.
2. Alegria (chara) O fruto da alegria é aquela viva satisfação interior dada pelo Espírito. Ela que nos enche de entusiasmo por estarmos na presença de Deus. A palavra do original grego chara serve para designar uma pessoa ou um objeto que é a causa ou o objeto da alegria. Essa alegria que faz com que as cruzes que carregamos se tornem leves. Ela nos tira do medo que nos impede de ir ao encontro das pessoas, nos tira do nosso respeito exagerado ao outro e nos conduz à celebrar nossa vida no ambiente acolhedor da família de Deus.
3. Paz A palavra paz pode indicar um estado interior de harmonia, de libertação das ansiedades. No entanto, para o contexto específico da Carta aos Gálatas ela consiste na nossa reconciliação com Deus pela libertação dos pecados. O fruto da paz indica que estamos aproximados de Deus, que não permanecemos como inimigos de Deus, devedores pelos nossos erros. Mas agora, como homens e mulheres lavados no sangue de Jesus, o Espírito nos faz chamar nosso Pai dos Céus de “Abba Pai” (papaizinho) e entender que Ele nos chama agora de filhos muito amados.
4. Longanimidade Uma pessoa longânime é aquela pessoa que tem como qualidade a capacidade de suportar uma situação de sofrimento. Pode ser ainda a virtude de suportar com firmeza as contrariedades que as pessoas que amamos nos causam, a fim de conduzí-las ao bem. Assim pelo conhecimento da fraqueza da pessoa o conflito é evitado. Nesse sentido a longanimidade se relaciona intrinsecamente com a mansidão, que é o agir oportuno, acertado, de quem sabe esperar o momento certo para resolver as coisas.
São Paulo ensina ao falar dos dons que ela é a quietude da alma em meio a situações desfavoráveis, como provocações ou desentendimentos. É muito próprio da pessoa longânime não reagir com irritação, reclamação ou revide na hora dos problemas.
5. Benignidade (chrêstotês)
Consiste na atitude de gentileza ou docilidade no trato com as pessoas. Se opõe à severidade e à dureza. Se relaciona a uma postura de alguém que costuma ser prestativo, ou seja, que possui como hábito ajudar as pessoas ou costumeiramente procurar o melhor para os outros.
É a disposição daquele que se sensibiliza com a necessidade dos outros. Assim, o benigno está pronto a ajudar e se torna favorável à realização de trabalhos que beneficiem às demais pessoas. A benignidade se opõe portanto ao desprezo, à indiferença e à fúria.

6. Bondade
A característica principal desse fruto é a disposição favorável, ou na inclinação habitual de sempre darmos ou repartirmos o que possuímos com outras pessoas. Consiste também em habitualmente ser generoso ou bondoso com alguém. É sempre ligado a beneficiar gratuitamente outras pessoas, fazendo-lhes o bem. A palavra agatôsunê é essencialmente voltada para a prática, para o auxílio a outras pessoas. Ela não se associa exclusivamente a sentimentos mas à realização de tarefas para as quais somos impulsionados.
7. Fidelidade (pistis) Característica ou atributo daquele que é fiel, ou seja, daquele que confia em uma pessoa. Como um fruto do Espírito é aquela confiança em Jesus Cristo, no socorro de sua Palavra, na sua proximidade amiga. A fé em Jesus nos leva à decisão de crermos firmemente naquilo que nos ensina a Igreja como conteúdo da doutrina sagrada. Quando vivemos esse fruto abandonamos questionamentos e dúvidas desnecessárias e nos fiamos ousadamente no que ensina a Palavra de Deus. Esse fruto nos dá firmeza de ânimo face às críticas que recebemos dos infiéis ou dos vacilantes. Por ele resistimos e damos testemunhos do amor que temos por Jesus, sem nos importar com o julgamento que fazem sobre nós.
8. Mansidão (prautês) Postura de gentileza no relacionamento com as pessoas. Também corresponde àquela docilidade própria do amigo. Mas docilidade entendida aqui como força que nos possibilita acolher as fraquezas daqueles que amamos. Essa força vem do reconhecimento de nossas próprias forças e fraquezas, ou seja, de nossa humildade (consciência do que se é). Esse fruto do Espírito se opõe à aspereza ou aridez na maneira de tratar os irmãos.
Diz respeito ao âmbito das paixões. É a capacidade de ter auto-controle, de ter domínio sobre o impulsos do desejos, especialmente os relativos à sensualidade. É a manifestação de controle exercido pelo Espírito sobre os desejos e paixões, particularmente sobre os apetites sensuais.

sábado, 21 de março de 2009

DIREITO AO ABORTO



Embora contrário ao aborto, admito a sua descriminalização em certos casos, como o de estupro, e não apoio a postura do arcebispo de Olinda e Recife ao exigir de uma criança de 9 anos assumir uma gravidez indesejada sob grave risco à sua sobrevivência física (pois a psíquica está lesada) e ainda excomungar os que a ajudaram a interrompê-la.
Ao longo da história, a Igreja Católica nunca chegou a uma posição unânime e definitiva quanto ao aborto. Oscilou entre condená-lo radicalmente ou admiti-lo em certas fases da gravidez. Atrás dessa diferença de opiniões situa-se a discussão sobre qual o momento em que o feto pode ser considerado ser humano. Até hoje, nem a ciência nem a teologia tem a resposta exata. A questão permanece em aberto.
Santo Agostinho (sec. IV) admite que só a partir de 40 dias após a fecundação se pode falar em pessoa. Santo Tomás de Aquino (séc. XIII) reafirma não reconhecer como humano o embrião que ainda não completou 40 dias, quando então lhe é infundida a "alma racional".
Esta posição virou doutrina oficial da Igreja a partir do Concílio de Trento (séc. XVI). Mas foi contestada por teólogos que, baseados na autoridade de Tertuliano (séc. III) e de santo Alberto Magno (séc. XIII), defendem a hominização imediata, ou seja, desde a fecundação trata-se de um ser humano em processo. Esta tese foi incorporada pela encíclica Apostolica Sedis (1869), na qual o papa Pio IX condena toda e qualquer interrupção voluntária da gravidez.
No século XX, introduz-se a discussão entre aborto direto e indireto. Roma passa a admitir o aborto indireto em caso de gravidez tubária ou câncer no útero. Mas não admite o aborto direto nem mesmo em caso de estupro.
Bernhard Haering, renomado moralista católico, admite o aborto quando se trata de preservar o útero para futuras gestações ou se o dano moral e psicológico causado pelo estupro impossibilita aceitar a gravidez. É o que a teologia moral denomina ignorância invencível. A Igreja não tem o direito de exigir de seus fiéis atitudes heróicas.
Roma é contra o aborto por considerá-lo supressão voluntária de uma vida humana. Princípio que nem sempre a Igreja aplicou com igual rigor a outras esferas, pois defende o direito de países adotarem a pena de morte, a legitimidade da "guerra justa" e a revolução popular em caso de tirania prolongada e inamovível por outros meios (Populorum Progresio).
Embora a Igreja defenda a sacralidade da vida do embrião em potência, a partir da fecundação, ela jamais comparou o aborto ao crime de infanticídio e nem prescreve rituais fúnebres ou batismo in extremis para os fetos abortados…
Para a genética, o feto é humano a partir da segmentação. Para a ginecologia-obstetrícia, desde a nidação. Para a neurofisiologia, só quando se forma o cérebro. E para a psicosociologia, quando há relacionamento personalizado. Em suma, carece a ciência de consenso quanto ao início da vida humana.
Partilho a opinião de que, desde a fecundação, já há vida com destino humano e, portanto, histórico. Sob a ótica cristã, a dignidade de um ser não deriva daquilo que ele é e sim do que pode vir a ser. Por isso, o cristianismo defende os direitos inalienáveis dos que se situam no último degrau da escala humana e social.
O debate sobre se o ser embrionário merece ou não reconhecimento de sua dignidade, não deve induzir ao moralismo intolerante, que ignora o drama de mulheres que optam pelo aborto por razões que não são de mero egoísmo ou conveniência social, como é o caso da menina do Recife.
Se os moralistas fossem sinceramente contra o aborto, lutariam para que não se tornasse necessário e todos pudessem nascer em condições sociais seguras. Ora, o mais cômodo é exigir que se mantenha a penalização do aborto. Mas como fica a penalização do latifúndio improdutivo e de tantas causas que, no Brasil, levam à morte, por ano, de cerca de 21 entre cada 1.000 crianças que ainda não completaram doze meses de vida?
"No plano dos princípios - declarou o bispo Duchène, então presidente da Comissão Espiscopal Francesa para a Família - lembro que todo aborto é a supressão de um ser humano. Não podemos esquecê-lo. Não quero, porém, substituir-me aos médicos que refletiram demoradamente no assunto em sua alma e consciência e que, confrontados com uma desgraça aparentemente sem remédio, tentam aliviá-la da melhor maneira, com o risco de se enganar" (La Croix, 31/3/79).
O caso do Recife exige uma profunda análise quanto aos direitos do embrião e da gestante, a severa punição de estupros e violência sexual no seio da família, e dos casos de pedofilia no interior da Igreja e, sobretudo, como prescrever medidas concretas que socialmente venham a tornar o aborto desnecessário.
FREI BETTO
[Autor, em parceria com L.F. Veríssimo e outros, de "O desafio ético" (Garamond), entre outros livros].

quinta-feira, 19 de março de 2009

Juízo Particular, Purgatorio, Céu Inferno

Juízo Particular
É sentimento comum entre os teólogos que o Juízo particular se faz logo que o homem expira, e que no próprio lugar onde a alma se separa do corpo, aí é julgada por Jesus Cristo, que não manda ninguém em seu lugar, mas vem Ele mesmo para este fim.
A sua vinda, diz Santo Agostinho, é motivo de alegria para o fiel e de terror para o ímpio. Qual não será o espanto daquele que, vendo pela primeira vez o seu Redentor, o vir indignado! Esta idéia causava tal estremecimento ao Padre Luís Dupont, que fazia tremer consigo a cela. O venerável Padre Juvenal Aucina, ouvindo cantar o Dies Irae (Dia da Ira), pensou no terror que se lhe havia de apoderar da alma quando se apresentasse no dia do Juízo, e resolveu deixar o mundo, o que efetivamente fez. O aspecto do Juiz indignado será o anúncio da condenação. Segundo São Bernardo, será então mais duro sofrimento para a alma ver Jesus Cristo indignado do que estar no inferno.
Têm-se visto criminosos banhados em copioso suor frio na presença de um juiz terrestre. Pison, comparecendo no senado com as insígnias da sua culpa, sentiu tamanha confusão, que a si próprio deu a morte. Que pena não é para um filho ou um vassalo ver seu pai ou o seu príncipe indignados! Que maior mágoa não deve sofrer uma alma à vista de Jesus Cristo, a quem desprezou durante toda a vida! Esse Cordeiro, que a alma via tão manso enquanto estava no mundo, vê-Lo-á agora irritado, sem esperança de jamais O apaziguar. Então pedirá às montanhas que a esmaguem e a furtem das iras do Cordeiro indignado. ....
Considerai a Acusação e o Exame. Haverá dois livros: o Evangelho e a Consciência. No Evangelho ler-se-á o que o culpado devia fazer; na Consciência, o que tiver feito. Na balança da divina justiça não se pesarão as riquezas, nem a dignidade, nem a nobreza das pessoas, mas sim, somente as obras. Diz Daniel: "Fostes pesado e achado demasiadamente leve". Vejamos o comentário do Padre Alvarez: "Não é ouro nem o poder do rei que está na balança, mas unicamente sua pessoa".
Virão então os acusadores, e em primeiro lugar o demônio, diz Santo Agostinho. Representará as obrigações em que não nos empenhamos e que deixamos de cumprir, denunciar-nos-á todas as faltas, marcando o dia e o lugar em que as cometemos.
Cornélio a Lapide acrescenta que Deus porá novamente diante dos olhos do pecador os exemplos dos santos, todas as luzes e inspirações com que o favoreceu durante a vida e, além disso, todos os anos que lhe foram concedidos para que os empregasse na prática do bem. Tereis, pois, de dar conta até de cada olhar, diz Santo Anselmo. Assim como se funde o ouro para o separar das escórias, assim são examinadas as boas obras, as confissões, as comunhões etc.
O Juízo particular de cada um, se dá logo após a morte, quando recebemos nossa sentença eterna. Podemos, então, ser condenados ao inferno ou ser enviados ao céu. Caso tenhamos morrido em pecado venial, nossa alma é enviada ao purgatório, para se purificar, e, depois, vai ao céu, para sempre.No fim do mundo, todos os homens que estiverem vivos então, morrerão. Depois é que se dará o Juízo universal. No Evangelho Nosso Senhor diz que, no dia do Juízo Final, o mundo atual sofrerá grandes cataclismas e os mortos -- (todos os homens estarão já mortos) -- ressuscitarão, voltando a ter seu corpo e sua alma unidos. Todos seremos reunidos num local, no vale de Josafat. Os bons serão colocados à direita de Jesus Cristo, e os maus à esquerda . E Cristo fará o Juízo Universal. Este não será o Juízo de cada alma, -- que já foi feito, e não será mudado -- e sim o julgamento do que os homens fizeram na História.Tudo isso poderá ser lido no Evangelho de São Mateus nos capítulos XXIV, onde Cristo fala dos sinais do fim do mundo, e no capitulo XXV, onde ele conta como será o Juízo Final. Os maus serão ressuscitados com seus corpos, que farão transparecer em seu aspecto, o pecado em que morreram. Os bons terão corpos gloriosos: luminosos, impassíveis, imortais e ágeis, semelhantes ao corpo de Cristo depois de sua Ressurreição gloriosa. Os pecados dos bons, dos quais eles já foram perdoados e purgados no purgatório, aparecerão como cicatrizes gloriosas como os de um soldado vencedor numa batalha. Após o Juízo Final, os homens serão mandados, ou para o céu, ou para o inferno, eternamente. Não haverá mais o purgatório.
A Igreja chama de purgatório esta purificação final dos eleitos, purificação esta que é totalmente diversa da punição dos condenados.
O grande doutor da Igreja, São Francisco de Sales (1567´1655), tem um ensinamento maravilhoso sobre o purgatório. Ele ensinava, já na idade média, que “é preciso tirar mais consolação do que temor do pensamento do Purgatório”. Eis o que ele nos diz: 1 ´ As almas alí vivem uma contínua união com Deus. 2 ´ Estão perfeitamente conformadas com a vontade de Deus. Só querem o que Deus quer. Se lhes fosse aberto o Paraíso, prefeririam precipitar´se no inferno a apresentar´se manchadas diante de Deus. 3 ´Purificam-se voluntariamente, amorosamente, porque assim o quer Deus. 4 ´ Querem permanecer na forma que agradar a Deus e por todo o tempo que for da vontade Dele. 5 ´ São invencíveis na prova e não podem ter um movimento sequer de impaciência, nem cometer qualquer imperfeição. 6 ´ Amam mais a Deus do que a si próprias, com amor simples, puro e desinteressado. 7 ´ São consoladas pelos anjos. 8 ´ Estão certas da sua salvação, com uma esperança inigualável. 9 ´ As suas amarguras são aliviadas por uma paz profunda. 10 ´ Se é infernal a dor que sofrem, a caridade derrama´lhes no coração inefável ternura, a caridade que é mais forte do que a morte e mais poderosa que o inferno. 11 O Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, porque as chamas que lá existem são chamas de amor. ( Extraído do livro O Breviário da Confiança, de Mons. Ascânio Brandão, 4a. ed. Editora Rosário, Curitiba, 1981).
Na realidade como foi mencionado em sala de aula, e no livro de Pe Alfonso Garcia Rubio, o “julgamento” é feito por nós mesmos. Na luz de Deus, perceberemos aquilo que somos realmente e aquilo que fizemos de nossa vida. Aparecerá claramente tudo quanto temos amadurecido no caminho do amor-serviço e da solidariedade assim como, o empobrecimento e a involução representados pelo nosso fechamento.
A possibilidade real do inferno se dá porque o ser humano possui a trágica possibilidade de fechar-se em si mesmo de maneira definitiva. Esta possibilidade encontra-se incluída na realidade de nossa liberdade, condicionada, mas real. É também uma possibilidade porque o Deus-Agape não violenta ninguém. O céu vem a ser a vida em plenitude. Trata-se de uma abertura e receptividade total. O céu é a expansão máxima das quatro relações. O céu é a comunhão perfeita com Deus e com os outros seres humanos.
(Prova de Antropologia-Marcia Calmon)


Qual é o ensinamento da Dei Verbum sobre a evolução na compreensão da tradição?

Durante bastante tempo, a Tradição, foi encarada como sendo fonte de revelação. Com o Concílio Vaticano II, através da Constituição “Dei Verbum”, nos traz a abertura de considerar que Tradição e Sagrada Escritura são como duas faces da mesma moeda, e da mesma realidade salvífica. Essa compreensão possibilita centralizar sobre a Bíblia a maior fonte de revelação para uma abertura ecumênica, ocasionando a aproximação do povo na direção das Escrituraras Sagradas, que devem ser vistas dentro de um contexto global.
O Antigo Testamento e o Novo Testamento são pontos de chegada da tradição e ponto de partida do processo de tradição da Igreja que chega até hoje a nós. A DV valoriza tanto a tradição quanto as Escrituras. Tradição e Escritura são espelhos para contemplar Deus. O mesmo Espírito inspirou as Escrituras e orienta a Igreja para que suas mensagens não se percam.
A Igreja vem a ser responsável pela transmissão da fé. A D.V 10, diz o seguinte:...” Os bispos e os fieis colaboram estreitamente na conservação, exercício e profissão da fé transmitida”, e ainda “ evidentemente o magistério vivo da Igreja não está acima da palavra de Deus, mas a seu serviço; a Igreja deve ensinar como foi transmitido, escutar a palavra de Deus, guardar santamente e expor fielmente a Palavra”.
( Marcia Calmon)

Como você definiria o cristianismo

Antes de tudo ser cristão é crer na ressurreição, é seguir Jesus, é crer que Jesus está vivo. O cristão está e estará sempre comprometido com os pobres e com os marginalizados.
O cristianismo vem a ser a centralidade da pessoa de Jesus, como revelador do Pai e do Espírito. No cristianismo, o cristão é convidado a assumir a vida e a proposta de Jesus. Religião significa religare, ou seja, quando se faz uma conexão entre o humano e Aquele transcendente. Algumas pessoas dizem não ter religião por não acreditarem naquilo que não vêem, naquilo que não podem tocar, naquilo que não é palpável, mas muitas das vezes têm uma religiosidade fantástica, outros, no entanto se dizem religiosos e não são cristãos.
Eu digo que sou religiosa pq acredito no Cristo ressureto, no Deus do cristianismo, que está acima, ao meu lado e que me fala.
O cristianismo é a religião da Revelação de um projeto de libertação e salvação; ela está fundamentada na manifestação de Deus na história do homem, primeiro através do povo de Israel e depois definitivamente em Jesus Cristo, que surgiu no meio desse povo como o Messias. Jesus é o centro do Cristianismo
Prova de Revelação - Marcia Calmon

terça-feira, 17 de março de 2009

TEMPLO DO ESPÍRITO

O tempo do Paráclito, segundo Jesus, traz para a Igreja uma nova dimensão, de conhecimento, memória e santidade. Este é o tempo do Paráclito.
O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos trará à memória tudo quanto eu vos disse (Jo 14, 26).
Incontáveis vezes, em nossas orações, temos rezado ...creio no Espírito Santo, na santa Igreja Católica..." ou, ainda, "...creio no Espírito Santo, Senhor dá a vida, ele que falou pelos profetas..." sem nos darmos conta da profundidade e da responsabilidade que é professar a fé na Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Ao exortar os cristão, da Igreja nascente, à devoção ao Paráclito, SÃO PAULO lembrava algo muito importante:
Ou não sabeis que vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós, que recebestes de Deus, e que, portanto, vós não vos pertenceis? (1Cor 6, 19). “
O que significa ser templo do Espírito Santo? Todos os que crêem e realizam o batismo no Espírito possuem a presença permanente do Espírito Santo em si (cf. Rm 8, 9). De fato, não pode haver salvação, em hipótese alguma, nem fé, nem conversão, nem tampouco a santificação, sem a atuação do Espírito de Deus. Essa comunhão efetua o entrelaçamento da natureza humana com a divina. Assim como a Igreja, comunidade dos crentes, é morada e santuário do Espírito (cf. 1Cor 3, 16ss), também a pessoa que crê, de forma individual regenerado pela graça, torna-se habitação do Espírito de Deus. Por causa dessa presença divina que habita o coração humano, verifica-se uma transposição de pertença. O crente deixa de pertencer a si próprio para ser propriedade de Deus. A advertência paulina no trecho acima, reporta-se à impropriedade do corpo humano, por ser morada do Espírito, dedicar-se às práticas sacrílegas e profanadoras do pecado. O Espírito não pode habitar em um santuário ocupado por valores contrários, que o impedem de realizar sua obra.
O santuário do corpo é referido pelo apóstolo como o local mais íntimo e precioso do ser humano, autêntico santo dos santos, onde a divindade é adorada e, por essa razão, faz sua morada. Como o corpo é o receptáculo do espírito, ao trazer o Espírito Santo para dentro de si, o crente torna seu corpo físico também participante dessa custódia. Por isso o corpo humano, santificado a partir do batismo, não pode entregar-se a práticas ilegais, imorais ou idólatras. A presença do Espírito de Deus no templo do nosso corpo, torna-o propriedade exclusiva de Deus. É sua residência, local onde ele atua e manifesta sua glória.
A esse ato de o Espírito Santo habitar na pessoa humana, a teologia chama de inabitação. Além desta habitação permanente, há que se considerar que o Espírito de Deus, além de tantos dons e carismas que suscita aos que a ele recorrem, igualmente, na economia da graça, concede o espírito de liberdade, pois,
...onde está o Espírito do Senhor, há liberdade (2Cor 3, 17).
A liberdade cristã é a resultante, sempre, da ação do Paráclito sobre a comunidade dos crentes. Com efeito, toda a tradição bíblica supõe que nem sempre o homem seja capaz de tomar decisões livres. Liberto, o cristão é tomado de uma coragem, que os escritos neotestamentários chamam de parresia, isto é uma liberdade de falar, agir e tomar decisões, que o Espírito de Deus confere aos discípulos, àqueles que seguem o Ressuscitado. Essa pertença a Deus ocorre em face das seguintes considerações:
1. por direito de criação;2. por direito de libertação e redenção;;3. por direito de propriedade moral e espiritual;4. por dever de gratidão (de nossa parte);5. por direito da obra redentora de Cristo;6. por direito da inabitação do Espírito Santo (1)
Quando professamos nossa fé, orando o Credo, enaltecemos o mistério da encarnação que o Espírito realizou no seio virginal de Maria. "O Espírito é Deus (cf. Jo 4, 24), o que vem confirmado por SÃO PAULO: ‘O Senhor é Espírito’ (2Cor 3,17, que acrescenta em conclusão: ‘Por isso nós cremos no Espírito Santo, porque ele nos faz amar a Deus e liberta-nos de amar as coisas do mundo’ " (2).
O amor de Deus transforma os dons do Espírito em frutos, favoráveis à edificação da Igreja-comunidade, à família humana e à nossa salvação pessoal. Vimos, no capítulo anterior, os chamados "sete dons do Espírito Santo". Sete, como se sabe, é um número simbólico, que significa coisa perfeita, plena. Assim, ao falarmos em "sete dons" estamos dizendo que os dons de Deus são ilimitados, em poder e número. Sua riqueza é incalculável! O amor, por exemplo, é o primeiro dom do Espírito Santo. E do amor, quantos dons podem derivar? Milhares! O amor é o princípio da vida nova em Cristo, como força que dimana do Espírito Santo. Essa força nos permite - mais que isso, nos impele - produzir outros frutos de amor. O batismo nos dá, teoricamente, três grandes dons, chamados virtudes teologais: a fé, a esperança e o amor (ou caridade). Disse teoricamente, pois cada um deles se desdobra em outros, e na realidade somos agraciados, já desde a primeira unção com um número infindável de dons.
Vamos fazer um exercício de simples aritmética, para interpretar a lógica bíblica dos números. Somando os três dons básicos (ou virtudes teologais) aos sete dons do Espírito, a que resultado chegamos? Três, na simbólica apocalíptica é o número da divindade (talvez por causa da Trindade). Ora, três mais sete igual a dez. O sete, na numerologia semita reflete perfeição. De onde veio o três? Veio das virtudes teologais, fé, esperança e amor. E o sete? Dos "sete dons", entendimento, sabedoria, piedade, fortaleza, conselho, ciência e temor de Deus. Então, explica-se a equação: 3+7=10. O que significa o número dez? No Apocalipse, o yod representa o sagrado, a ação de Deus. Deste modo, se dermos oportunidade de Deus desenvolver em nós sua ação, teremos, pela soma das três virtudes teologais e dos sete dons, os chamados "frutos do Espírito Santo", que - também teoricamente - são dez. E que frutos são esses?
Os frutos do espírito são: caridade, alegria, paz, longanimidade, afabilidade, bondade, fidelidade, mansidão, benignidade e continência. Contra estes não há Lei. Os que são de Cristo Jesus, crucificaram a carne com as paixões e concupiscências. Se vivemos do Espírito, andemos também segundo o Espírito. (Gl 5, 22-25).
Se em suas vidas as pessoas não conseguem tornar visíveis esses frutos, apesar de haverem recebido o Espírito Santo no batismo e na crisma, talvez seja pelo fato de não invocarem o Paráclito de forma adequada, ou porque não têm fé suficiente ou, ainda, porque não conformaram suas vidas segundo o Espírito de Deus.
Na verdade eu vos digo: se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vos dará. Até agora nada pedistes em meu nome. Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa. (Jo 16, 23s)
Digo-vos, pois: Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos abrirão. Pois quem pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, se abre. Que pai dentre vós dará uma pedra a seu filho que pede um pão? Ou lhe dará uma cobra se ele pedir um peixe? Ou se pedir um ovo lhe dará um escorpião? Se, pois, vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu saberá dar o Espírito Santo aos que pedirem! (Lc 11, 9-13)
Os carismas, referidos por SÃO PAULO (cf. 1Cor 12, 4 -14, 40), como diferentes serviços prestados pelo Espírito, são os dons que cada um ganha para manifestar o Paráclito para a utilidade de todos.
Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo é Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum (1Cor 12, 4-7).
A lista paulina não é completa, pois dos dons do Espírito não caberiam em uma relação, por mais inspirada que fosse.
A variedade dos carismas corresponde à variedade de serviços, que podem ser momentâneos ou duradouros, privados ou públicos. Cada um tem o seu e deve recebê-lo com gratidão, colocando-o generosamente a serviço da comunidade (3)
A generosa vinda do Paráclito é a síntese da doação de todos os dons.
Quando vier o Paráclito, ele convencerá o mundo do que é pecado, justiça e julgamento. Convencerá do que é pecado, porque não creram em mim; do que é justiça, porque vou para o Pai e já não me vereis; do que é julgamento, porque o príncipe deste mundo já está condenado. (Jo 16, 8-11).
A presença do Paráclito, legítimo ajudador do povo de Deus, estabelece um julgamento contra o "príncipe desde mundo" (4), autêntica síntese de todo o mal. A liberdade que o Espírito suscita, dá condições ao ser humano de fazer sua decisão entre as coisas do mundo (cujo "príncipe" já está julgado) e as "coisas do alto", os dons mais elevados (cf. 1Cor 12, 31). A pessoa divina do Espírito Santo perpassa as páginas da Sagrada Escritura. Encontramo-la do Gênese ao Apocalipse, sobre as águas (Gn 1, 2) e com a Esposa do Cordeiro (a Igreja), ansiando, no fim dos tempos, a parusia, a segunda e definitiva vinda de Jesus Cristo.
O Espírito e a Esposa dizem: "Vem". E quem escutar, diga: "Vem". E quem tiver sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida (Ap 22, 17).
A missão conjunta de Cristo e do Paráclito realiza-se na Igreja, que é Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo. Os fiéis chegam à comunhão com o Pai, por Cristo, no Espírito Santo (5). É no sentido da conversão e da unidade que o Espírito Paráclito intercede por nós (cf. Rm 8, 26). Como alma da Igreja, o Espírito anima o povo de Deus, na esperança da volta de Cristo, a parusia tão fielmente expectada. O mesmo Espírito que habita em nós, e que ressuscitou o Filho, haverá de dar vida a nossos corpos mortais (cf. Rm 8, 11). Quando diz "Vem!", o Paráclito está, ao mesmo tempo em que atesta a veracidade de todas as promessas de Deus, reforçando nossa esperança e ajudando a desenvolver nossa perseverança. Nós, com toda a Igreja, cremos nesse Espírito de ajuda, que nos acompanha durante essa fase de espera da vinda gloriosa de Jesus Cristo.
Ensina-me, Senhor, a cumprir tua vontade, pois tu és meu Deus. Que teu bom Espírito me guie, por terra aplainada! (Sl 143, 10).
Quando observamos que o mundo cultiva, cada vez mais, valores que se distanciam do Evangelho de Cristo, constatamos que ali está faltando o Espírito de Deus. Igualmente nas pessoas angustiadas, vazias, entregues a mil derivativos e vícios, incapazes de se relacionar, de acolher, perdoar, nota-se que falta a presença do Espírito Santo. Só a presença do Paráclito, nas relações internacionais, nas estruturas da sociedade, nas famílias e no coração das pessoas tem condições de efetuar as transformações necessárias. O que falta, então?
Na atmosfera que nos rodeia, existem sons, imagens e outros estímulos eletrônicos, não é mesmo? O que é necessário para captá-los? Um aparelho de televisão, um rádio, uma antena. Enfim, é preciso sintonizar. E é justamente isso que falta, muitas vezes na vida das pessoas: colocar-se em sintonia com o Espírito Santo, com aquele nosso "aparelho", chamado coração. Quem permite que o Paráclito tome conta de sua vida, é capaz de descobrir, com maior clareza, o sentido de sua vida. Pessoas infelizes, amargas, sem alegria, não tem em suas vidas aquele rumo, aquele verdadeiro sentido que só o Espírito Santo pode dar. Muitos não sabem haurir, como que garimpar, os dons de Deus, colocados à disposição de todos. Só é infeliz quem desconhece, ou se mostra indiferente, à ação do Paráclito, e se deixa abater pelo desânimo, pela descrença e pela desesperança.
O Espírito Santo Paráclito nos é enviado da parte de Deus para dar rumo novo e definitivo à nossa vida. Essa presença divina, e só ela, possui a capacidade de efetuar todas as transformações que esperamos. Quando o Paráclito vem à nossa vida, quando o deixamos agir em nós, tudo se transforma, a partir de nosso coração e de nossas ações. Para isso, como recomenda o apóstolo PAULO, é preciso guardar o precioso depósito da fé, com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós (cf. 2Tm 1, 14). Fomos batizados no Espírito para sermos um só povo, um povo fiel e diligente, que tem no Espírito Santo aquele que suscita a comunhão e provê a santificação.
(Prova de Eclesiologia-Marcia Calmon)

segunda-feira, 16 de março de 2009

APOCALIPSE

O período em que foi escrito o Livro do Apocalipse, foi perto do ano 100. Foi um período de perseguição, sofrimento e perturbações generalizada contra os cristãos. O Apocalipse de São João visa dar esperança e coragem as primeiras comunidades cristãs já que as mesmas estavam sendo perseguidas e martirizadas. João ao escrevê-lo tinha um único objetivo que era: mostrar que Jesus Cristo ressuscitado é o vencedor da mentira e do mal. Ele morreu e ressuscitou e assim revela o que Deus projeta para todos os homens e mulheres, que é implantar um Reino de Paz e Amor.
Os destinatários, como já foi mencionado acima, eram às Igrejas Cristãs, essas perseguições vinham acompanhadas das calúnias e acusações movida pela Sinagoga às autoridades romanas contra o cristianismo primitivo.
Entre os anos de 90 – 114 d.c perseguidos pelos romanos, e instigados pelos judeus, as igrejas cristãs da Ásia, experenciavam um período de sofrimento muito grande. E o Apocalipse de São João tem por objetivo reerguer o povo num tempo difícil. Sendo assim, o tema central do Apocalise assumiu temas proféticos como:
a) Confiança em Deus
b) Julgamento de Deus
c) Esperança na recompensa divina.
Deus é o libertador de seu povo e a Besta é exatamente o poder contrario.
Devemos salientar que o que Babel significou para o povo de Judá, Roma significava para os Cristãos. O Apocalipse mostra que Jesus é o Senhor da história, só que Satanás é a figura do perseguidor encarnado, historicizado e personificado.
A preocupação do Livro do Apocalise de São João é revelar uma mensagem divina.
Temos no referido livro, como fundamento da esperança, Jesus Cristo. Acreditando que Ele está vivo, podemos ver os acontecimentos de outra maneira, porque há Nele uma possibilidade nova.
O Cristo vivo está na vida das comunidades, Ele age onde estamos vivendo em comunhão fraterna. O Ressuscitado reúne o povo de Deus, porque é Ele quem anima e reúne as testemunhas que sofrem perseguições por causa da justiça. Ele, O Ressuscitado, vence a iniqüidade dos poderes absolutos e opressores. O Ressuscitado mostra o sentido dos acontecimentos, onde a história deve caminhar para a solidariedade, onde haja, empenho na construção de uma sociedade solidária e de participação no bem comum.
O Apocalipse encerra-se solenemente com a visão da Jerusalém Celeste (21, 1; 22,5). O autor demonstra ter consciência do grande valor espiritual da sua mensagem, de modo que pode ser comparado às figuras dos maiores profetas do Antigo Testamento.
Todo sentido teológico do Apocalipse fundamenta-se em três pilares: Deus, Cristo a Igreja. Deus é o Alfa e o Omega, o principio e o fim, é aquele que vive nos séculos dos séculos, é o Pantocráto, ou seja, o Senhor do Universo. Jesus Cristo é o tema central do Apocalipse, que é verdadeiramente a sua revelação, Ele é o Filho do Homem, é o Cordeiro imolado que redimiu os homens de todas as tribos, línguas e povos, ao mesmo tempo é o vitorioso sobre os inimigos debelados. Cristo é o Logos de Deus, que está junto a Deus, como no prólogo do quarto Evangelho, Ele é enfim o Kyrios (Senhor), tradução do termo Adonai que, nos textos veterotestamentario, substitui o nome de JHWH. Mas o Cristo do Apocalipse, apesar de seus atributos divinos, é o mesmo Cristo do Evangelho. Viveu na Palestina, foi crucificado em Jerusalém, morreu e ressuscitou. A Igreja é o “Novo Israel”, é o “povo da eleição” resgatado pelo sangue do Cordeiro; é o Reino de Deus cujo advento é celebrado pelas aclamações celestes; e enfim é a “esposa do Cordeiro” e a “Nova Jerusalém” resplandecente da “Gloria de Deus”.
Sendo assim, a mensagem principal do livro é que Deus é o Senhor da História dos homens, e no final haverá a vitória dos justos, em que pese o sofrimento e a morte. Mostra a vida da Igreja na terra como uma contínua luta entre Cristo e Satanás, mas que no final haverá o triunfo definitivo do Reino de Cristo, triunfo que implica na ressurreição dos mortos e renovação da natureza material. As calamidades que são apresentadas não devem ser interpretadas ao pé da letra. Deus sabe e saberá tirar de todos os sofrimentos da humanidade e mostra a vitória final do Bem sobre o Mal.
Por tudo isto que foi dito acima, afirmo que a figura principal do referido Livro é Jesus Cristo o Cordeiro imolado.
(Prova sobre NT - Marcia Calmon)

CORPO DE CRISTO

Esta imagem é tipicamente paulina. Ela é elaborada a partir de problemas que Ele (Paulo) enfrentou com a comunidade de Corinto. Esta comunidade apresentava sérios problemas pastorais, doutrinais e morais. Além desses problemas havia um grupo conhecido como “Os Entusiasmados” que já se julgavam salvos, segundo este grupo, Jesus já havia realizado tudo por eles, e eles não precisavam de mais nada. Além deste problema o próprio texto ainda deixa entrever outro, pois existiam dentro da comunidade, subgrupos que tinha ciúmes, inveja, que competiam entre si, grupos de : Pedro, Paulo e Apolo, eles estabeleciam divisões na comunidade. Por esse motivo e para solucionar esse problema, Paulo usa a imagem do Corpo, que embora seja um todo, é composto de vários membros. Essa dimensão horizontal de mutua colaboração, é portanto, extremamente enfatizada na imagem do Corpo de Cristo, demonstrando assim, a necessidade de cooperação mutua. Esta concepção da Igreja como Corpo de Cristo foi sendo desenvolvida aos poucos. Começa pelas Cartas aos Coríntios sendo também utilizadas na Carta aos Romanos que enfatiza a dimensão de colaboração entre os membros.
O que é a Igreja? Qual sua missão no mundo?Como deve ser a Igreja que quer ser a continuadora da obra de Jesus de Nazaré? Essas perguntas, entre outras, são próprias da eclesiologia. As duas primeiras não podem ser respondidas sem a terceira. Essa terceira é princípio e fundamento. O especifico das igrejas cristãs é que seus membros -discípulos e discípulas- vivem, no âmbito pessoal e comunitário, os valores alternativos do reinado de Deus, que estão condensados no Sermão da Montanha (MT 5-7) Portanto, as respostas não são puramente teóricas ou doutrinais, mas testimoniais. Têm a ver com uma prática concreta e histórica inspirada por Jesus de Nazaré, pela tradição apostólica e pela vida das primeiras comunidades cristãs. Com este espírito, buscamos, uma aproximação à concepção e à prática eclesiológica desenvolvida por Monsenhor Romero. O fio condutor que seguiremos são os conteúdos eclesiológicos de suas quatro Cartas pastorais como Arcebispo da Arquidiocese de San Salvador, El Salvador. Nelas, encontramos plasmadas parte do legado que ele nos deixou; legado de incontestável valor histórico, eclesial e humano.
Aproximar-nos à eclesiologia desenvolvida por Monsenhor Romero desde suas quatro Cartas Pastorais tem, pelo menos, quatro vantagens: primeiro, são os escritos de um pastor ao seu povo e, de tal maneira -como afirma Monsenhor Ricardo Urioste - expressam os sentimentos mais profundos de um pastor que encarnou seu ministério na vida concreta dos homens e mulheres de seu tempo, especialmente, dos pobres. Segundo, elas recolhem os fundamentos teológicos nos quais se apoiava seu ministério e as opções pastorais da arquidiocese (são verdadeiros documentos eclesiais). Terceiro, nelas se unem história, fé, vida e doutrina. Quatro, esses escritos são uma boa referência de historização do que se constitui a missão essencial da Igreja: a evangelização.
Uma idéia central se faz presente em cada uma das Cartas: que a Igreja consiga ser fiel a sua identidade e às urgências humanas que lhe são apresentadas na historia. Com exceção da primeira Carta (escrita em abril de 1977), as três seguintes foram escritas no contexto das celebrações da Transfiguração do Senhor dos anos de 1977, 78 e 79. A seleção do momento tinha profunda motivação de fé: atualizar, a partir das próprias circunstâncias históricas da Arquidiocese, a voz do Pai que, através da liturgia da Igreja, proclama que Jesus (o Patrono de El Salvador) é o Filho de suas complacências e que nosso dever é escutá-lo (Mt 17,5)
. Motivações e circunstâncias das Cartas Pastorais
(a) Igreja da Páscoa (abril, 1977). Escrita por ocasião da substituição de Monsenhor Luis Chávez González. Segundo Monsenhor Romero, esta é uma carta de apresentação e constitui "uma profissão de fé e confiança no espírito do Senhor, que constrói e anima; que dá unidade e progresso à Igreja, mesmo quando mudam os elementos humanos que a compõem e dirigem". O título ‘Igreja da Páscoa’ quis expressar as circunstâncias reais e litúrgicas da Quaresma, da Paixão e da Páscoa, que marcaram aquela época difícil, caracterizada pela perseguição contra a Igreja, pela repressão que afogava os anseios de libertação e pelo auge da Doutrina de Segurança Nacional, que instaurou, de maneira sistemática, a violência e o terror.
(b) A igreja Corpo de Cristo na história (agosto, 1977). Em um contexto de difamação e de perseguição da Igreja até o martírio, Monsenhor Romero aprofunda sobre a missão da Igreja e de seu serviço no mundo como prolongamento da missão de Jesus. Seguindo a mais genuína tradição da Igreja, ele propõe que a Igreja é o Corpo de Cristo na história, servidora do Reino de Deus e, por isso, tem a missão de anunciar e realizar o Reino dos pobres. Dessa maneira, comunica a esperança, mas não uma esperança ingênua porque vai acompanhada pelo sangue de seus sacerdotes e de seus seguidores: sangue e dor que denunciam a existência de dificuldades objetivas e de más vontades; porém, sangue que também é expressão de vontade de martírio e que, portanto, é a melhor razão e testemunho de uma esperança.
(c) A Igreja e as organizações político-populares (agosto, 1978). Escrita conjuntamente com Monsenhor Arturo Rivera Damas (nesse tempo, bispo de Santiago de María) e como resposta à gravidade dos problemas predominantes na época: a violação do direito de organização popular e os diversos tipos de violência que se generalizavam no país. A Carta foi considerada a primeira tentativa séria de abordar, teológica e pastoralmente, ambos os problemas.
(d) Missão da Igreja em meio à crise do país (agosto, 1979). “Esta Carta foi motivada pelas novas formas de sofrimento e pelos atropelos vividos no país; e também pelo que o Monsenhor chama de ‘o Novo Pentecostes”, representado na Terceira Conferência Episcopal da América Latina, celebrada em Puebla (México), que, na opinião de Monsenhor Romero, capacita melhor a Igreja para acompanhar o povo em suas angústias e esperanças; em suas frustrações e expectativas.
. Alguns aspectos eclesiológicos nas Cartas Pastorais de Monsenhor Romero
(a) A Igreja existe para viver e lutar pela mesma causa de Jesus
Segundo Monsenhor Romero, “a Igreja é a comunidade de homens que professam a fé em Jesus Cristo como único Senhor da história. É uma comunidade de fé cuja primeira obrigação , cuja razão de ser está em dar prosseguimento à vida e atividade de Jesus. Ser Igreja é manter na história, através dos homens, a figura de seu Fundador. A Igreja existe, principalmente, para a evangelização de todos os povos; é uma instituição formada por homens com formas e estruturas determinadas; porém, tudo isso se organiza somente ao serviço de uma realidade mais fundamental: o exercício de sua tarefa evangelizadora. Nessa tarefa, tem que continuar proclamando sua fé em Jesus Cristo e tem que continuar a obra que o próprio Jesus realizou na história. E, ao fazer isso, está sendo o Corpo de Cristo na história" (cf. 2ª CP, p.79).
Conseqüentemente, se cristão, para Monsenhor, será viver e lutar pela mesma causa que Jesus lutou: o reino de Deus. "Cumpriu-se o tempo e o reino de Deus está próximo. Convertam-se e creiam na boa nova" (Mc 1,15). Assim começa e resume Cristo sua mensagem evangélica, afirma Monsenhor. Seus ouvintes, agrega, entenderam o que isso significava: uma maneira de conviver entre os homens de modo a que se sentissem irmãos e, dessa forma, também filhos de Deus (cf. Ibid., p.16). Portanto, a Igreja não vive para si. Sua razão de ser é a mesma de Jesus: um serviço a Deus para salvar o mundo (cf. 1ª CP, p.17). Em sua primeira Carta - que tinha como objeto a apresentação do novo pastor da Arquidiocese, Monsenhor manifesta que lhe agrada muito sublinhar esse sentido de serviço porque, ao assumir seu novo ministério, busca "viver e sentir, o mais próximo possível, os sentimentos do Bom Pastor que ‘não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida’ (MT 20,28)" [cf. Ibid., p.15]
Monsenhor enfatiza que na causa do reino de Deus é evidente a preferência de Jesus pelos pobres (Lc 4, 18-19). Esta preferência, assinala, percorre todo o evangelho. Dirige-se a eles, fundamentalmente, em suas curas, exorcismos; com eles convive e come; se une, defende e promove todas aquelas pessoas que, por razões sociais e religiosas, estavam à margem da sociedade de seu tempo: os pecadores, os publicanos, as prostitutas, os samaritanos, os leprosos (cf. 2ª CP. p.17). Para Monsenhor isto não significa uma rejeição ás demais classes sociais a quem também a Igreja quer servir e iluminar e às quais também exige sua cooperação à construção do reino de Deus. Significa, isso sim, a preferência de Jesus por aqueles que têm sido objetos dos interesses dos homens, ao invés de serem sujeitos de seu próprio destino (cf. 2ª Ibid., p.21).
Por isso, o anúncio do reino de Deus na história, enquanto missão fundamental da Igreja, supõe também, segundo Monsenhor Romero, a clara denúncia de tudo aquilo que impeça, impossibilite ou destrua o projeto de Deus (cf. Ibid., pp.18-19). Nisso também converge Jesus, para quem ao anúncio do reino agrega a denúncia do pecado de seu tempo: denuncia o falseamento que se tem feito de Deus, manipulado em tradições humanas que destroem a verdadeira vontade de Deus (Mc 7, 8-13), denuncia o falseamento do templo, que, sendo a casa de Deus, foi convertida em guarida de ladrões (Mc 11, 15-17), denuncia uma religião sem obras de justiça, como na conhecida parábola de bom samaritano (Lc 10, 29-37), denuncia a atitude de todos aqueles que têm feito do poder não um meio para o serviço aos desvalidos, mas uma maneira de mantê-los na opressão (Lc 6,24; Lc 11, 46; Lc 11,52; Mt 20,25)
Viver e lutar pela mesma causa que Jesus implicou para Monsenhor Romero compromissos muito concretos: o fomento de uma sólida orientação doutrinal, a denúncia profética do pecado histórico, a promoção da libertação integral, o desmascaramento das idolatrias predominantes na sociedade salvadorenha; urgir mudanças estruturais profundas e acompanhar o povo nas classes populares e no setor das classes dirigentes (cf. 4ª CP, n.37).
(b) Uma Igreja solidária com os pobres e sua história libertadora
Durante muitos anos, Monsenhor afirma, nos acostumamos a pensar que a história dos homens, seus gozos e tristezas, seus avanços e fracassos são algo provisório e passageiro, de pouca importância em comparação com a plenitude final. Parecera que a história dos homens e a história de salvação corriam por caminhos paralelos. Parecia que nossa história profana, ao sumo, não era mais do que um período de provação para a salvação ou condenação definitiva. A Igreja atual -segundo Monsenhor- tem outra noção do que é a história dos homens. Não é oportunismo, nem mero desejo de adaptar-se ao mundo o que a leva a pensar distinto. É porque recobrou eficazmente a intuição que percorre toda a Bíblia de que Deus está atuando na história humana. E, por isso, deve levar muito a sério a história dos homens (cf. 2ª CP, p.8).
Esta preocupação com a história humana, segundo Monsenhor, não é genérica, mas muito concreta: "A Igreja tem uma missão de serviço ao povo. Precisamente de sua identidade e missão especificamente religiosa derivam funções, luzes e energias que podem servir para estabelecer e consolidar a comunidade humana segundo a lei divina. À Igreja compete recolher tudo o que de humano haja na causa e luta do povo, sobretudo dos pobres. A Igreja se identifica com a causa dos pobres quando estes exigem seus legítimos direitos. Em nosso país, esses direitos, na maioria dos casos, são apenas direito à sobrevivência, a sair da miséria" (cf. 3ª CP, nn. 62,63). Sua inserção na realidade nacional, como novo pastor da Arquidiocese, foi fundamentada por Monsenhor Romero nessa nova relação da Igreja com o mundo, através dos novos olhos com que a Igreja vê o mundo, tanto para questioná-lo no que tem de pecado, como para deixar-se questionar pelo mundo no que ela mesma pode ter de pecado (cf. 2ª CP, p.5). O Concílio Vaticano II proclamou que as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de nosso tempo, sobretudo dos mais pobres e de quantos sofrem, são as alegrias e esperanças, tristezas e angústias dos discípulos de Cristo. Monsenhor Romero historiou essa proclamação, afirmando que a Igreja trairia seu amor a Deus e sua fidelidade ao Evangelho, se deixasse de ser defensora dos direitos dos pobres; se deixasse de ser animadora de todo anseio de libertação; se deixasse de ser orientadora e humanizadora de toda luta legitima para conseguir uma sociedade mais justa que prepare o caminho ao verdadeiro reino de Deus na história. Isto exige que a Igreja tenha uma maior inserção entre os pobres, com quem deve se solidarizar até nos riscos e em seu destino de perseguição, disposta a dar o máximo testemunho de amor para defender e promover aqueles a quem Jesus amou preferencialmente. Essa preferência pelos pobres não significa uma discriminação injusta de classes, mas um convite a todos, sem distinção de classes, a aceitar e assumir a causa dos pobres como se estivessem aceitando e assumindo sua própria causa, a própria causa de Cristo (cf. 4ª CP, n.56).
(c) A Igreja, povo de Deus no mundo real
Na Bíblia, a formação do povo e a consciência de sua personalidade coletiva estão vinculadas ao descobrimento de Deus e à progressiva experiência de sua salvação. Javé forma o povo nos patriarcas (Gen. 12, 1-2; 17,4-8), o liberta da opressão e o escolhe como seu povo (Ex. 19, 3-8; Dt. 7,6) e conclui com uma aliança de graça (Ex 19-24); Dt. 5). Daí surge o dom e o imperativo de ser um povo santo (Ex 19,6). O povo é de Deus e dele vem sua identidade. Esta identidade é recolhida e atualizada por Monsenhor Romero em suas Cartas. "A Igreja atual - expressa Monsenhor - tem consciência de ser povo de Deus no mundo; ou seja, uma organização de homens que pertencem a Deus, porém que está nesse mundo. Por isso, o Concílio define a Igreja como ‘novo Israel que vai avançando neste mundo, que entra na história humana’ (L.G. 9). O que aqui se afirma é de importância capital porque o aspecto transcendente que deve elevar a Igreja até Deus somente poderá realizá-lo e vivê-lo estando no mundo dos homens e peregrinando na história dos homens" (cf. 2ª CP, pp.6-7).
A Igreja, afirma Monsenhor Romero, está no mundo para significar e realizar o amor libertador de Deus, manifestado em Cristo Por isso, ele sente a preferência pelos pobres (L.G. 8). Porque eles colocam a Igreja latino-americana ante um desafio e uma missão que não pode ser ignorar e ao que se deve responder com diligência e audácia (cf. Ibid., p.7).
Ter consciência de ser povo de Deus no mundo, leva à necessidade de estar no mais real do mundo, isto é, a realidade das maiorias oprimidas pela fome, pela miséria, pelas guerras, pela ignorância, por estruturas desumanas. Segundo Monsenhor Romero, "Medellín tem apontado esta trágica realidade do pecado, relacionando suas duas dimensões: ‘a falta de solidariedade que leva no plano individual e social, a cometer verdadeiros pecados, cuja cristalização aparece evidente nas estruturas injustas’... E quando se tenta resumir em uma frase em que consiste o pecado fundamental de nosso tempo para nosso continente, não duvida em afirmar que essa miséria, como fato coletivo, é uma injustiça que clama aos céus" (cf. Ibid., p. 10).
A perseguição à Igreja foi entendida por Monsenhor Romero como uma conseqüência "lógica" que sobrevêm ao povo de Deus, quando, por fidelidade ao Evangelho busca transformar um mundo dominado pela injustiça, pela mentira e pela morte. Ele o expressou nos seguintes termos: "Enquanto a Igreja predique uma salvação eterna e sem compromissos nos problemas reais de nosso mundo, a Igreja é respeitada e glorificada, e até lhe concedem privilégios. Porém, se a Igreja é fiel à missão de denunciar o pecado que leva a muitos à miséria, e dessa forma anuncia a esperança de um mundo mais justo e humano, então é perseguida e caluniada..." (cf. Ibid., p.33).
Porém, a Igreja não está no mais real do mundo somente para mostrar tudo o que existe de iniqüidade, mas também para semear esperança em um mundo melhor possível. Nossa esperança em Cristo, diz Monsenhor, nos faz desejar um mundo mais justo e mais fraterno. Por isso, agrega, a Igreja da Arquidiocese está interessada e esperançosa em que nosso país tenha, fora e dentro de nossas fronteiras, uma imagem nova e melhor. Por isso, o objeto de sua esperança está inseparavelmente unido à justiça social, ao melhoramento real do homem salvadorenho, sobretudo das maiorias; à defesa de seus direitos humanos, do direito à vida, à educação, à habitação, à medicina, ao direito de organização. (cf. Ibid., p. 37)
4. Conclusão:
Monsenhor Romero, um homem de Igreja, isto é, foi um cristão, um sacerdote, um bispo fiel à essência e missão da Igreja. Ser uma pessoa de Igreja significou para ele manter na história que lhe tocou viver o projeto e a pessoa de Jesus. Isto implicou um modo de ser Igreja: Igreja encarnada no mundo (porque Deus atua na história humana), Igreja servidora dos pobres (porque são vítimas da injustiça), Igreja povo de Deus (porque reconhece que todos somos Igreja e que a Igreja é de todos), Igreja fiel à melhor tradição universal e latino-americana (porque pôs em prática o espírito e a letra do Concílio Vaticano II, o pensamento social cristão, Medellín e Puebla), Igreja fiel ao testemunho martirial (porque os mártires são pessoas que seguem a Jesus, vivem dedicados à causa de Jesus e morrem pelas mesmas razões que Jesus).
(prova de Eclesio - Marcia Calmon)

A PRESENÇA DIVINA DA GRAÇA


São Tomás de Aquino , o ilustre Doutor Angélico , emprega o conceito de 'participação' , que permite compreender a presença do divino no humano a partir da Encarnação do Verbo . Deus , como ser onipresente , se relaciona igualmente com toda a realidade . No caso da graça , ocorre uma especial participação da vida divina na vida do homem e , assim , da alma humana na vida do Espírito Santo.
'Participar' significa tomar parte ; -- como significados de 'participar' temos : participar como "ter em comum" algo que não se desfaz quando participado , como , por exemplo , uma informação , ou a propriedade de um bem material e imaterial . Um outro sentido é participar como estar presente e usufruir dos prazeres de uma festa ou de um colóquio , por exemplo . Um quarto sentido indica um 'ter com', ou um 'ter' em oposição a 'ser'; um 'ter' pela união (participação) com outro que 'é' ( do grego metékhein ). Eu tenho algo de outro ser , sem ser aquilo que o outro ser , com quem compartilho este atributo , é. Mas este algo que participo , também não é diferente do meu ser ; é algo comum - possível de existir nas duas partes que o compartilham . É , sem dúvida , algo concedido , mas que efetivamente cria uma segunda natureza em nossa alma e que tende a perdurar , se , quem o recebeu não venha a perder este algo participado , agindo contrariamente às condições que permitem a sua manutenção .
Este conceito é platônico , mas sem a eventual gnose do filósofo grego . O ser criado tem o 'ser', por participar do ser de Deus, que é ser. Ter a graça em nós , não a degrada , em absoluto ; a graça é incorruptível e só faz promover a nossa purificação crescente. O pecado é sempre uma mácula exclusiva do homem .
Os homens possuem , necessariamente , uma dimensão natural e outra espiritual ; por essa razão, apesar de existirem como consequência de um processo natural , possuem uma alma infudida de modo sobrenatural , e da graça , que purifica esta alma , também de modo sobrenatural. O homem recebe a vida de Deus ; a vida natural , indiretamente , e a vida sobrenatural , diretamente .
Todas as criaturas participam do ser e, portanto, da natureza divina. Toda a criação , e o homem , especialmente , por sua perfeição própria, refletem no seu ser, a bondade , a verdade e a beleza de Deus. Esta afirmação é verdade dogmática e está expressa no Texto Sagrado . O mundo existe por vontade de Deus ; o seu destino é sobrenatural , e o seu objetivo último é glorificar seu Criador ; - o mundo participa da glória Daquele que o fez existir.
E o homem é a cabeça da criação , feito à semelhança de Deus para dominar a natureza e adorar a Deus.
No plano sobrenatural , somos participantes da própria vida íntima de Deus , através da graça .
Na participação da graça , formamos uma sociedade espiritual hierarquizada, de almas justificadas pelo batismo , no Corpo Místico do Ressuscitado . Esta sociedade é a Igreja . E a Igreja dispõe toda ela , e só ela , de todos os meios para oferecer a toda a humanidade a salvação nela e por ela , por deliberação divina .
A participação da graça divina envolve o ser humano inteiramente , por isso se fala de uma 'nova geração' ou 'recriação' . A graça torna o cristão 'filho de Deus' . Trata-se , a rigor , de uma filiação adotiva , Deus reassume o homem plenamente , porque o homem desejou tornar-se digno de Deus , em Cristo .
Quando recebemos a graça justificadora do batismo , recebemos as virtudes espirituais que nos fazem nascer para Deus , tornando a nossa alma agradável e agradecida à Santíssima Trindade , apta a realizar as obras de valor sobrenatural , e , dessa forma , crescer na justiça e na caridade, recebendo mais graças . A graça só é possível a um ser racional feito ' imago dei ' , possuidor de uma alma racional e da capacidade de conhecer e amar a Deus , crendo Nele pela virtude da fé .
Cristo aplacou a ira divina definitivamente em face dos pecados do homem ; que vigorava desde o pecado original cometido por Adão .
Através de seu sacrifício santo , perfeito e eterno , Jesus , Senhor e Salvador , tornou , novamente , Deus propício aos homens ; expiou nossas culpas e assim nos regenerou e nos reconciliou com o Pai.
A filiação divina de Cristo é diferente da nossa , que é sempre participada . Cristo jamais disse , referindo-se a si mesmo , e aos outros, 'nosso Pai', mas sempre 'meu Pai' ou 'vosso Pai' (Jo 20, 17). NS Jesus Cristo tem a substância divina , eternamente , unida à sua substância humana . Ele é Deus unido ao homem ; um ser gerado , jamais criado - uma processão divina .
Os homens têm a Santíssima Trindade habitando em suas almas , sem serem Deus ; eles partilham alguns atributos pela habitação divina , mas não possuem a substância, como o Cristo ; - sendo esta união hipostática na Pessoa de Jesus , um mistério de fé.
A condição divina é de glória e pefeição eternas. Cristo, por ser Deus Encarnado, possui a mesma perfeição e santidade de Deus.
Em Deus , não há restrições - limitações ou potência passiva - Deus é Ato Puro . Ele é eternamente santo e justo !
Os homens , não obstante , mesmo purificados do pecado original, e dignos da presença divina, antes do Juízo , podem efetivamente perder o estado de graça recebido com o batismo , se realizarem atos indignos de Deus .
São Tomás afirma na Suma Teológica que : "A graça é uma certa semelhança com Deus de que o homem participa" (III, 2, 10 ad 1); "O primeiro efeito da graça é conferir um ser de alguma forma divino" (III, 2 d. 26, 155). A graça nos assemelha a Cristo ; a santidade nos transmite uma semelhança com Deus que se reflete no conjunto do nosso ser , ou seja , em pensamentos , atos e palavras. Por isso , os santos resplandecem a glória e a beleza divinas. A graça , segundo a doutrina católica , é sempre transmitida com a justiça e a caridade , ao contrário dos calvinismo , que afirma a existência de uma graça comum não redentora , anterior à concessão da graça justificadora .
São Tomás mesmo afirmando a realidade do mundo distinta da realidade espiritual ( criada e incriada ) , lembra que esta é uma realidade distinta de Deus , e que a graça não destrói nem altera nenhuma delas ; -- elas são , completamente , assumidas por Deus , e elevadas a um plano superior . Tudo é chamado a Deus , e santificado - "Tudo atrairei a Mim " (Jo 12, 32). Deus usa a realidade natural para uni-la à ordem sobrenatural , tal como ocorrerá - completa e definitivamente - no fim dos tempos.
A realidade foi criada por Deus , desejada e amada por Ele ; por essa razão , é um canal de transmissão da graça divina , através dos sacramentos e dos sacarmentais da Igreja . A graça nos foi dada pelo Verbo , que se fez carne e morreu por nós ; para nos fazer justos e dignos de Deus . Cristo morreu em nosso lugar , venceu a morte e transmitiu esta vitória aos que acolhem a sua mensagem salvífica .
A Graça é uma ação unilateral , ou seja , ela não depende dos nossos méritos. Deus livremente desejou , sem cobrar nada do homem , oferecer-lhe a salvação , cabendo ao homem livremente acolher este convite do Espírito Santo . A doutrina da participação sobrenatural é uma formulação doutrinária , pois Cristo é a videira, e nós os ramos (Jo 15, 5) . A vida ilimitada de Cristo se estende , pelo batismo e pelos demais sacramentos , a todos os cristãos . Cristo é Filho de Deus , e quem participa de Cristo , tem a filiação divina. Em Hebreus (3, 14) lemos : "somos participantes de Cristo". O estado de glória do Cristo ressuscitado antecipa a imagem do homem futuro ; o seu estado de glória é o modo permanente do seu ser divino - " Ele é primogênito de muitos irmãos " (Rom 8, 29). Quando esteve no mundo em forma corpórea Cristo nunca deixou de estar no céu e quando se faz presente no sacramento também permanece no seu estado glorioso no céu .
A Graça e os Sacramentos
Nos sacramentos , a substância divina se faz presente na consagração , mas ela não adquire as dimensões espaço-temporais das espécies naturais , por essa razão a eucaristia pode ser celebrada em muitos lugares diferentes ao mesmo tempo, e por um período de tempo indefinido . A substância natural do Corpo de Cristo eternamente unida a Deus , perde as limitações físicas dos tempos da carne . Cristo nasceu com as restrições características do homem decaído do estado de graça, sem jamais ter conhecido o pecado , por livre decisão de Deus . Sua pessoa contudo sempre desfrutou da onipresença , da onisciência e da onipotência ; mesmo quando não as utilizou .
Sacrifício Único
No sacramento da eucaristia , ocorre uma nova aplicação do sacrifício único do calvário que não acrescenta méritos ao sacrifício da cruz , e é realizado de forma incruenta . Os sacramentos são ações divinas , prolongam o sacerdócio de Cristo e a sua missão salvífica entre os homens , seu ministro invisível é o Espírito Santo . Os sacramentos são necesssários para a nossa justificação e para a manutenção e o crescimento na graça , na justiça e na caridade.
Encarnação do Verbo
São João Evangelista utiliza o termo grego Logos (verbo, palavra) para designar a segunda Pessoa da Santíssima Trindade que 'se fez carne' em Jesus Cristo . O Logos é a imagem do Pai e o princípio da criação (cfr. Apo 3, 14), o responsável pela articulação racional das coisas. O Logos é o Conhecimento que Deus tem de Si . É o princípio através do qual Deus criou a realidade para manifestar a Sua benignidade e a Sua Justiça e assim ser glorificado de uma maneira diferente . A criação deve ser entendida como um projeto ; feito por Deus através do Verbo. O mundo possui uma ordem pela qual os entes estão em conformidade dinâmica com suas respectivas essências e tendem em conjunto para Deus . A Encarnação , portanto , deve ser entendida como uma nova criação e uma nova ordenação do mundo para a glória de Deus . Trata-se de um gesto de amor para com os homens , ao invés de abandonar o homem definitivamente no pecado , Deus prometeu e efetivamente operou o resgate do homem e a regeneração do mundo através do sacrificio e da vitória de Cristo sobre a morte . Somente Jesus , o Deus Filho , poderia suportar e vencer o aniquilamento , para devolver a justiça ao mundo . Deus, através de Cristo , reconciliou todas as coisas Consigo (Col 1, 20).
Prof Everton Jobim
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São Tomás de Aquino , o ilustre Doutor Angélico , emprega o conceito de 'participação' , que permite compreender a presença do divino no humano a partir da Encarnação do Verbo . Deus , como ser onipresente , se relaciona igualmente com toda a realidade . No caso da graça , ocorre uma especial participação da vida divina na vida do homem e , assim , da alma humana na vida do Espírito Santo.
'Participar' significa tomar parte ; -- como significados de 'participar' temos : participar como "ter em comum" algo que não se desfaz quando participado , como , por exemplo , uma informação , ou a propriedade de um bem material e imaterial . Um outro sentido é participar como estar presente e usufruir dos prazeres de uma festa ou de um colóquio , por exemplo . Um quarto sentido indica um 'ter com', ou um 'ter' em oposição a 'ser'; um 'ter' pela união (participação) com outro que 'é' ( do grego metékhein ). Eu tenho algo de outro ser , sem ser aquilo que o outro ser , com quem compartilho este atributo , é. Mas este algo que participo , também não é diferente do meu ser ; é algo comum - possível de existir nas duas partes que o compartilham . É , sem dúvida , algo concedido , mas que efetivamente cria uma segunda natureza em nossa alma e que tende a perdurar , se , quem o recebeu não venha a perder este algo participado , agindo contrariamente às condições que permitem a sua manutenção .
Este conceito é platônico , mas sem a eventual gnose do filósofo grego . O ser criado tem o 'ser', por participar do ser de Deus, que é ser. Ter a graça em nós , não a degrada , em absoluto ; a graça é incorruptível e só faz promover a nossa purificação crescente. O pecado é sempre uma mácula exclusiva do homem .
Os homens possuem , necessariamente , uma dimensão natural e outra espiritual ; por essa razão, apesar de existirem como consequência de um processo natural , possuem uma alma infudida de modo sobrenatural , e da graça , que purifica esta alma , também de modo sobrenatural. O homem recebe a vida de Deus ; a vida natural , indiretamente , e a vida sobrenatural , diretamente .
Todas as criaturas participam do ser e, portanto, da natureza divina. Toda a criação , e o homem , especialmente , por sua perfeição própria, refletem no seu ser, a bondade , a verdade e a beleza de Deus. Esta afirmação é verdade dogmática e está expressa no Texto Sagrado . O mundo existe por vontade de Deus ; o seu destino é sobrenatural , e o seu objetivo último é glorificar seu Criador ; - o mundo participa da glória Daquele que o fez existir.
E o homem é a cabeça da criação , feito à semelhança de Deus para dominar a natureza e adorar a Deus.
No plano sobrenatural , somos participantes da própria vida íntima de Deus , através da graça .
Na participação da graça , formamos uma sociedade espiritual hierarquizada, de almas justificadas pelo batismo , no Corpo Místico do Ressuscitado . Esta sociedade é a Igreja . E a Igreja dispõe toda ela , e só ela , de todos os meios para oferecer a toda a humanidade a salvação nela e por ela , por deliberação divina .
A participação da graça divina envolve o ser humano inteiramente , por isso se fala de uma 'nova geração' ou 'recriação' . A graça torna o cristão 'filho de Deus' . Trata-se , a rigor , de uma filiação adotiva , Deus reassume o homem plenamente , porque o homem desejou tornar-se digno de Deus , em Cristo .
Quando recebemos a graça justificadora do batismo , recebemos as virtudes espirituais que nos fazem nascer para Deus , tornando a nossa alma agradável e agradecida à Santíssima Trindade , apta a realizar as obras de valor sobrenatural , e , dessa forma , crescer na justiça e na caridade, recebendo mais graças . A graça só é possível a um ser racional feito ' imago dei ' , possuidor de uma alma racional e da capacidade de conhecer e amar a Deus , crendo Nele pela virtude da fé .
Cristo aplacou a ira divina definitivamente em face dos pecados do homem ; que vigorava desde o pecado original cometido por Adão .
Através de seu sacrifício santo , perfeito e eterno , Jesus , Senhor e Salvador , tornou , novamente , Deus propício aos homens ; expiou nossas culpas e assim nos regenerou e nos reconciliou com o Pai.
A filiação divina de Cristo é diferente da nossa , que é sempre participada . Cristo jamais disse , referindo-se a si mesmo , e aos outros, 'nosso Pai', mas sempre 'meu Pai' ou 'vosso Pai' (Jo 20, 17). NS Jesus Cristo tem a substância divina , eternamente , unida à sua substância humana . Ele é Deus unido ao homem ; um ser gerado , jamais criado - uma processão divina .
Os homens têm a Santíssima Trindade habitando em suas almas , sem serem Deus ; eles partilham alguns atributos pela habitação divina , mas não possuem a substância, como o Cristo ; - sendo esta união hipostática na Pessoa de Jesus , um mistério de fé.
A condição divina é de glória e pefeição eternas. Cristo, por ser Deus Encarnado, possui a mesma perfeição e santidade de Deus.
Em Deus , não há restrições - limitações ou potência passiva - Deus é Ato Puro . Ele é eternamente santo e justo !
Os homens , não obstante , mesmo purificados do pecado original, e dignos da presença divina, antes do Juízo , podem efetivamente perder o estado de graça recebido com o batismo , se realizarem atos indignos de Deus .
São Tomás afirma na Suma Teológica que : "A graça é uma certa semelhança com Deus de que o homem participa" (III, 2, 10 ad 1); "O primeiro efeito da graça é conferir um ser de alguma forma divino" (III, 2 d. 26, 155). A graça nos assemelha a Cristo ; a santidade nos transmite uma semelhança com Deus que se reflete no conjunto do nosso ser , ou seja , em pensamentos , atos e palavras. Por isso , os santos resplandecem a glória e a beleza divinas. A graça , segundo a doutrina católica , é sempre transmitida com a justiça e a caridade , ao contrário dos calvinismo , que afirma a existência de uma graça comum não redentora , anterior à concessão da graça justificadora .
São Tomás mesmo afirmando a realidade do mundo distinta da realidade espiritual ( criada e incriada ) , lembra que esta é uma realidade distinta de Deus , e que a graça não destrói nem altera nenhuma delas ; -- elas são , completamente , assumidas por Deus , e elevadas a um plano superior . Tudo é chamado a Deus , e santificado - "Tudo atrairei a Mim " (Jo 12, 32). Deus usa a realidade natural para uni-la à ordem sobrenatural , tal como ocorrerá - completa e definitivamente - no fim dos tempos.
A realidade foi criada por Deus , desejada e amada por Ele ; por essa razão , é um canal de transmissão da graça divina , através dos sacramentos e dos sacarmentais da Igreja . A graça nos foi dada pelo Verbo , que se fez carne e morreu por nós ; para nos fazer justos e dignos de Deus . Cristo morreu em nosso lugar , venceu a morte e transmitiu esta vitória aos que acolhem a sua mensagem salvífica .
A Graça é uma ação unilateral , ou seja , ela não depende dos nossos méritos. Deus livremente desejou , sem cobrar nada do homem , oferecer-lhe a salvação , cabendo ao homem livremente acolher este convite do Espírito Santo . A doutrina da participação sobrenatural é uma formulação doutrinária , pois Cristo é a videira, e nós os ramos (Jo 15, 5) . A vida ilimitada de Cristo se estende , pelo batismo e pelos demais sacramentos , a todos os cristãos . Cristo é Filho de Deus , e quem participa de Cristo , tem a filiação divina. Em Hebreus (3, 14) lemos : "somos participantes de Cristo". O estado de glória do Cristo ressuscitado antecipa a imagem do homem futuro ; o seu estado de glória é o modo permanente do seu ser divino - " Ele é primogênito de muitos irmãos " (Rom 8, 29). Quando esteve no mundo em forma corpórea Cristo nunca deixou de estar no céu e quando se faz presente no sacramento também permanece no seu estado glorioso no céu .
A Graça e os Sacramentos
Nos sacramentos , a substância divina se faz presente na consagração , mas ela não adquire as dimensões espaço-temporais das espécies naturais , por essa razão a eucaristia pode ser celebrada em muitos lugares diferentes ao mesmo tempo, e por um período de tempo indefinido . A substância natural do Corpo de Cristo eternamente unida a Deus , perde as limitações físicas dos tempos da carne . Cristo nasceu com as restrições características do homem decaído do estado de graça, sem jamais ter conhecido o pecado , por livre decisão de Deus . Sua pessoa contudo sempre desfrutou da onipresença , da onisciência e da onipotência ; mesmo quando não as utilizou .
Sacrifício Único
No sacramento da eucaristia , ocorre uma nova aplicação do sacrifício único do calvário que não acrescenta méritos ao sacrifício da cruz , e é realizado de forma incruenta . Os sacramentos são ações divinas , prolongam o sacerdócio de Cristo e a sua missão salvífica entre os homens , seu ministro invisível é o Espírito Santo . Os sacramentos são necesssários para a nossa justificação e para a manutenção e o crescimento na graça , na justiça e na caridade.
Encarnação do Verbo
São João Evangelista utiliza o termo grego Logos (verbo, palavra) para designar a segunda Pessoa da Santíssima Trindade que 'se fez carne' em Jesus Cristo . O Logos é a imagem do Pai e o princípio da criação (cfr. Apo 3, 14), o responsável pela articulação racional das coisas. O Logos é o Conhecimento que Deus tem de Si . É o princípio através do qual Deus criou a realidade para manifestar a Sua benignidade e a Sua Justiça e assim ser glorificado de uma maneira diferente . A criação deve ser entendida como um projeto ; feito por Deus através do Verbo. O mundo possui uma ordem pela qual os entes estão em conformidade dinâmica com suas respectivas essências e tendem em conjunto para Deus . A Encarnação , portanto , deve ser entendida como uma nova criação e uma nova ordenação do mundo para a glória de Deus . Trata-se de um gesto de amor para com os homens , ao invés de abandonar o homem definitivamente no pecado , Deus prometeu e efetivamente operou o resgate do homem e a regeneração do mundo através do sacrificio e da vitória de Cristo sobre a morte . Somente Jesus , o Deus Filho , poderia suportar e vencer o aniquilamento , para devolver a justiça ao mundo . Deus, através de Cristo , reconciliou todas as coisas Consigo (Col 1, 20).
Prof Everton Jobim

[Eusébio de Cesaréia] Vida de São Tiago, o Justo

Quem é: "Tiago, primeiro que recebeu do Salvador e dos apóstolos o episcopado da igreja de Jerusalém e ao qual os livros divinos chamam inclusive de irmão de Cristo"Como foi eleito Bispo de Jerusalem: "depois da ascensão do Salvador, Pedro, Tiago (Maior) e João, mesmo tendo sido os preferidos do Salvador, não tomaram para si esta honra, mas elegeram como bispo de Jerusalém Tiago o Justo."Aparência: "sobre sua cabeça não passou tesoura nem navalha e tampouco ungiu-se com azeite nem usou do banho."Como ele adorava ao Senhor: "ali (no Santuario) se encontrava ajoelhado e pedindo perdão por seu povo, tanto que seus joelhos ficaram calejados como os de um camelo, por estar sempre de joelhos adorando a Deus e pedindo perdão para o povo."Porque do Apelido de "Justo": "Por sua eminente retidão era chamado 'o Justo' e 'Oblías', que em grego quer dizer proteção do povo e justiça, como declaram os profetas acerca dele."Martírio de Tiago, o JustoOs Judeus estavam temerosos quanto a Fé em Cristo: "Sendo pois, muitos os que creram, inclusive entre as autoridades , os judeus, escribas e fariseus se alvoroçaram dizendo: todo o povo corre perigo ao esperar o Cristo em Jesus."Reuniram-se pois ante Tiago e disseram: "Nós te pedimos: retém ao povo, que está em erro a respeito de Jesus, como se ele fosse o Cristo. Pedimo-te que convenças a respeito de Jesus todos os que vierem para o dia da Páscoa, porque a ti todos obedecem. Efetivamente, nós e todo o povo damos testemunho de ti, de que és justo e não te deixas levar pelas pessoas. Tu pois, convence a toda a multidão para que não se engane a respeito do Cristo. Todo o povo e nós mesmos te obedecemos. Ergue-te pois sobre o pináculo do templo para que do alto sejas visível e todo o povo ouça tuas palavras, pois por causa da Páscoa reúnem-se todas as tribos, inclusive com os gentios."

Puseram Tiago em pé sobre o pináculo do templo e disseram-lhe aos gritos: "O tu, o justo!, a quem todos devemos obedecer, posto que o povo anda extraviado atrás de Jesus o crucificado, diga-nos quem é a porta de Jesus."E ele respondeu com grande voz: "Por que me perguntam sobre o Filho do homem? Ele também está sentado no céu à direita do grande poder e há de vir sobre as nuvens do céu."Muitos se converteram ao ouvr as palavras de Tiago: "E sendo muitos os que se convenceram completamente e ante o testemunho de Tiago, irromperam em louvores dizendo: 'Hosana ao filho de Davi!'"Então os mesmos escribas e fariseus novamente disseram uns aos outros: "Fizemos mal em proporcionar tal testemunho a Jesus, mas subamos e lancemo-lo para baixo, para que tenham medo e não creiam nele."E puseram-se a gritar dizendo: "Oh! Oh! Também o Justo extraviou-se!"Tiago foi apedrejado: "Subiram pois e lançaram abaixo o Justo. E diziam uns aos outros: "Apedrejemos a Tiago o Justo!" E começaram a apedrejá-lo, porque ao cair não chegou a morrer."Mas Tiago, virando-se, ajoelhou-se e disse:: "Eu te peço Senhor, Deus Pai: Perdoa-os, porque não sabem o que fazem."Um Sacerdote pede se arrepende do apedrejamento: "E quando estavam assim apedrejando-o, um sacerdote, um dos filhos de Recab, filho dos Recabim, dos quais o profeta Jeremias havia dado testemunho (Jr 35, 2-19) , gritava dizendo: 'Parai, que estais fazendo? O Justo roga por vós!'"Morre Tiago, o Justo: "E um deles, tecelão, agarrou o bastão com que batia os panos e deu com este na cabeça do Justo, e assim foi que sofreu o martírio."Eusébio de Cesaréia ainda nos afirma: "os que creram, creram por Tiago."São Tiago, rogai por nós!
Todos os textos foram tirados de "História Eclesiástica" escrito por Eusébio, Bispo de Cesaréia.
Felippe Cremona Mendes